Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

Ensaio - Ronald Augusto

Aqui Há Dragões (do latim HIC SVNT DRACONES), é uma frase usada para designar territórios desconhecidos ou perigosos em mapas medievais. Tal frase foi encontrada apenas no Globo de Lenox e, recentemente descoberta, numa representação do Novo Mundo feita num ovo de avestruz.
Felizmente passou

Se os bons escritores apelam à relevância da crítica, os maus escritores a fazem necessária. Bons livros tornam possível e louvável a crítica que reconhece e traz à superfície as qualidades de tais obras. Mas os livros ruins – ainda mais quando tidos e havidos por obras sérias – afirmam o gesto indispensável da crítica que procura revelar esse blefe. Portanto, é justo que sejamos gratos – e críticos com relação – aos livros ruins e àqueles que, seja por boas ou más intenções, tentam nos passar semelhante conversa. Isto posto, passemos ao comentário propriamente dito.

Entre as três leituras significativas, deste ano de 2013, que gostaria de destacar – coerente com o parágrafo acima e atendendo à solicitação do Edson Cruz, editor do site de literatura e arte http://www.musarara.com.br –, confesso que apenas uma foi efetivamente surpreendente, ou seja, prazerosa, e, por isso, começo por ela. Trata-se do livro Las montañas del oro do poeta argentino Leopoldo Lugones, um dos mestres de Jorge Luis Borges. A obra foi publicada em 1897, mesmo ano de publicação do poema Un coup de dés de Mallarmé. Lugones inicia seu percurso poético com Las montañas del oro. O conjunto é cheio de excelentes poemas em prosa, mas muitos deles conformados à métrica. Como um poeta ligado à escola simbolista, Lugones gosta das formas híbridas, assim, ao invés de fazer uma espécie de transição do verso medido para o livre, experimentando no meio do caminho o poema em prosa, que é de ritmo mais distenso, ele dá à prosa o vertebrado do verso metrificado, de onde resulta uma bela tensão. Além disso, Leopoldo Lugones é muito bom no campo visual, tem imagens poderosas. Por divertimento, gosto de definir Lugones como um baita simbolista francês que, por alguma razão, resolveu escrever seus poemas em espanhol; talvez seja por isso que em vários momentos sua linguagem acaba por neutralizar a aspereza constitutiva do seu idioma.

A segunda leitura, que na verdade ainda não está finalizada (falta pouco), é a Metafísica de Aristóteles. Um clássico. Isto significa, simples assim, que deve ser lido, ponto. Um clássico cuja leitura vale o cansaço de cursar filosofia aos cinquent’anos da minha idade. Só mesmo um filósofo tão desanuviado – et pour cause, grego – e que opera com a perplexidade a partir do senso comum, poderia conceber o apetite pelo conhecimento do seguinte modo: “...devemos partir do que mal-e-mal é cognoscível, mas cognoscível para nós, e procurar chegar ao cognoscível absoluto, por via como dissemos, daquelas mesmas coisas de que temos conhecimento”. Anoto que dou ênfase na passagem citada ao aspecto prospectivo desse movimento, isto é, interessa o que nos é mal-e-mal cognoscível. Agora, quanto à pretensão ao “cognoscível absoluto”, isto fica pra bem mais tarde.

A última leitura não chegou a ser um prazer, mas uma enorme frustração, quer dizer, foi de “tirar o fôlego”, mas ao revés, em escala negativa. Reli Toda Poesia de Paulo Leminski e saí desanimado dela. E tal sensação se produziu a partir da seguinte intuição: quando lia os poemas (as tiradas) de Paulo Leminski era como se eu estivesse lendo poemas de poetas da minha e da geração subsequente tal é a facilidade com que essa poesia se oferece à imitação. Afinal, quem joga com quem? Parece haver algo de mórbido ou de fantasmagórico nisso, porque – admitindo que o ar esteja efetivamente viciado – tudo leva a crer que Leminski é que posa como o diluidor deles. Uma originalidade tão pavimentada quanto exausta. Paulo Leminski sobrevive (mal e banalmente) em seus imitadores retardatários. Com isso não isento Leminski, em outras palavras, o retardamento poético não deve ser imputado tão só aos seguidores e admiradores, mas ele é como que uma transformação dos predicados da poesia do poeta de Curitiba. Enfim, já escrevi longamente sobre esse best seller de 2013 e também fui apedrejado por isso. Não houve réplica crítica, como de hábito, mas tão só cusparada reativa de fãs devotos do poeta judoca. Tudo bem, felizmente passou.

A todos, meus votos de excelentes leituras em 2014!

No comments:

Autores

Ademir Demarchi Adília Lopes Adriana Pessolato Afobório Agustín Ubeda Alan Kenny Alberto Bresciani Alberto da Cunha Melo Aldo Votto Alejandra Pizarnik Alessandro Miranda Alexei Bueno Alexis Pomerantzeff Ali Ahmad Said Asbar Almandrade Álvaro de Campos Alyssa Monks Amadeu Ferreira Ana Cristina Cesar Ana Paula Guimarães Andrew Simpson Anthony Thwaite Antonio Brasileiro Antonio Cisneros Antonio Gamoneda António Nobre Antonio Romane Ari Cândido Ari Candido Fernandes Aristides Klafke Arnaldo Xavier Atsuro Riley Aurélio de Oliveira Banksy Bertolt Brecht Bo Mathorne Bob Dylan Bruno Tolentino Calabrone Camila Alencar Cândido Rolim Carey Clarke Carla Andrade Carlos Barbosa Carlos Bonfá Carlos Drummond de Andrade Carlos Eugênio Junqueira Ayres Carlos Pena Filho Carol Ann Duffy Carolyn Crawford Cassiano Ricardo Cecília Meireles Celso de Alencar Cesar Cruz Charles Bukowski Chico Buarque de Hollanda Chico Buarque de Hollanda and Paulo Pontes Claudia Roquette-Pinto Constantine Cavafy Conteúdos Cornelius Eady Cruz e Souza Cyro de Mattos Dantas Mota David Butler Décio Pignatari Denise Freitas Desmond O’Grady Dimitris Lyacos Dino Valls Dom e Ravel Donald Teskey Donizete Galvão Donna Acheson-Juillet Dorival Fontana Dylan Thomas Edgar Allan Poe Edson Bueno de Camargo Eduardo Miranda Eduardo Sarno Eduvier Fuentes Fernández Elaine Garvey Éle Semog Elizabeth Bishop Enio Squeff Ernest Descals Eugénio de Andrade Evgen Bavcar Fernando Pessoa Fernando Portela Ferreira Gullar Firmino Rocha Francisco Niebro George Callaghan George Garrett Gey Espinheira Gherashim Luca Gil Scott-Heron Gilberto Nable Glauco Vilas Boas Gonçalves Dias Grant Wood Gregório de Matos Guilherme de Almeida Hamilton Faria Henri Matisse Henrique Augusto Chaudon Henry Vaughan Hilda Hilst Hughie O'Donoghue Husam Rabahia Ian Iqbal Rashid Ingeborg Bachmann Issa Touma Italo Ramos Itamar Assumpção Iulian Boldea Ivan Donn Carswell Ivan Justen Santana Ivan Titor Ivana Arruda Leite Izacyl Guimarães Ferreira Jacek Yerka Jack Butler Yeats Jackson Pollock Jacob Pinheiro Goldberg Jacques Roumain James Joyce James Merril James Wright Jan Nepomuk Neruda Jason Yarmosky Jeanette Rozsas Jim McDonald Joan Maragall i Gorina João Cabral de Melo Neto João Guimarães Rosa João Werner Joaquim Cardozo Joe Fenton John Doherty John Steuart Curry John Updike John Yeats José Carlos de Souza José de Almada-Negreiros José Geraldo de Barros Martins José Inácio Vieira de Melo José Miranda Filho José Paulo Paes José Ricardo Nunes José Saramago Josep Daústin Junqueira Ayres Kerry Shawn Keys Konstanty Ildefons Galczynski Kurt Weill Lêdo Ivo Léon Laleau Leonardo André Elwing Goldberg Lluís Llach I Grande Lou Reed Luis Serguilha Luiz Otávio Oliani Luiz Roberto Guedes Luther Lebtag Magnhild Opdol Manoel de Barros Marçal Aquino Márcio-André Marco Rheis Marcos Rey Mari Khnkoyan Maria do Rosário Pedreira Mariângela de Almeida Marina Abramović Marina Alexiou Mario Benedetti Mário Chamie Mário de Andrade Mário de Sá-Carneiro Mário Faustino Mario Quintana Marly Agostini Franzin Marta Penter Masaoka Shiki Maser Matilde Damele Matthias Johannessen Michael Palmer Miguel Torga Mira Schendel Moacir Amâncio Mr. Mead Murilo Carvalho Murilo Mendes Nadir Afonso Nâzım Hikmet Nuala Ní Chonchuír Nuala Ní Dhomhnaill Odd Nerdrum Orides Fontela Orlando Gibbons Orlando Teruz Oscar Niemeyer Osip Mandelstam Oswald de Andrade Pablo Neruda Pablo Picasso Pádraig Mac Piarais Patativa do Assaré Paul Funge Paul Henry Paulo Afonso da Silva Pinto Paulo Cancela de Abreu Paulo Henriques Britto Paulo Leminski Pedro Du Bois Pedro Lemebel Pete Doherty Petya Stoykova Dubarova Pink Floyd Plínio de Aguiar Qi Baishi Rafael Mantovani Ragnar Lagerbald Raquel Naveira Raul Bopp Regina Alonso Régis Bonvicino Renato Borgomoni Renato de Almeida Martins Renato Rezende Ricardo Portugal Ricardo Primo Portugal Ronald Augusto Roniwalter Jatobá Rowena Dring Rui Carvalho Homem Rui Lage Ruy Belo Ruy Espinheira Filho Ruzbihan al-Shirazi Salvado Dalí Sandra Ciccone Ginez Santiago de Novais Saúl Dias Scott Scheidly Seamus Heaney Sebastià Alzamora Sebastian Guerrini Shahram Karimi Shorsha Sullivan Sigitas Parulskis Sílvio Ferreira Leite Silvio Fiorani Sílvio Fiorani Smokey Robinson Sohrab Sepehri Sophia de Mello Breyner Andresen Souzalopes Susana Thénon Susie Hervatin Suzana Cano The Yes Men Thom Gunn Tim Burton Tomasz Bagiński Torquato Neto Túlia Lopes Vagner Barbosa Val Byrne Valdomiro Santana Vera Lúcia de Oliveira Vicente Werner y Sanchez Victor Giudice Vieira da Silva Vinícius de Moraes W. B. Yeats W.H. Auden Walt Disney Walter Frederick Osborne William Kentridge Willian Blake Wladimir Augusto Yves Bonnefoy Zdzisław Beksiński Zé Rodrix