Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 2 - Fevereiro 2009Aos Poetas Clássicos - Patativa do Assaré
Antônio Gonçalves da Silva (05/03/1909-08/07/2002), o Patativa do Assaré, nasceu numa pequena propriedade rural de seus pais em Serra de Santana, município de Assaré, no sul do Ceará. Nem precisa dizer que pegou cedo na enxada e não freqüentou a escola, mas isso não impediu que sua veia poética florescesse e o transformasse em um inspirado cantor de sua região, de sua vida e da vida de sua gente. Dele se publicou Inspiração Nordestina (1956), Cantos de Patativa (1966), e em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados em Patativa do Assaré. Muitos de seus poemas e canções foram publicados em revistas e jornais, outros apenas em forma de folhetos de cordel.
Sua memória está preservada no centro da cidade de Assaré, num sobradão do século XIX que abriga o Memorial Patativa do Assaré. Em seu livro Cante lá Que Eu Canto Cá, de 1978, Patativa afirma que o sertão enfrenta a fome, a dor e a miséria, e que "para ser poeta de vera é preciso ter sofrimento".
Tive o imenso prazer de conhecer Patativa pessoalmente, na ocasião em que o jornalista e pesquisador musical Assis Ângelo escrevia dois de seus livros: A presença dos cordelistas e cantadores repentistas em São Paulo (1996) e O Poeta do Povo - Vida e Obra de Patativa do Assaré, de 1999. Numa das ocasiões, não me lembro bem quando, tivemos, os Pindahýbas e eu, o prazer de tomar umas boas cachaças com o velho Patativa...
Sua memória está preservada no centro da cidade de Assaré, num sobradão do século XIX que abriga o Memorial Patativa do Assaré. Em seu livro Cante lá Que Eu Canto Cá, de 1978, Patativa afirma que o sertão enfrenta a fome, a dor e a miséria, e que "para ser poeta de vera é preciso ter sofrimento".
Tive o imenso prazer de conhecer Patativa pessoalmente, na ocasião em que o jornalista e pesquisador musical Assis Ângelo escrevia dois de seus livros: A presença dos cordelistas e cantadores repentistas em São Paulo (1996) e O Poeta do Povo - Vida e Obra de Patativa do Assaré, de 1999. Numa das ocasiões, não me lembro bem quando, tivemos, os Pindahýbas e eu, o prazer de tomar umas boas cachaças com o velho Patativa...
Aos Poetas Clássicos
Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.
Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidad
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.
No premêro livro havia
Belas figuras na capa,
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a rescordá.
Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.
Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.
Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.
Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.
Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.
Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô.
Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem destante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.
Deste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lesma,
Tudo sofre a mesma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a mesma.
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