Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

Showing posts with label Mariângela de Almeida. Show all posts
Showing posts with label Mariângela de Almeida. Show all posts

Crônica - Mariângela de Almeida

Remembering Dali, by Olivia De Rossi


Nostalgia

Você, que já foi criança, tem alguma coisa que vem a sua cabeça quando o tema é infância? Uma frase, um momento, um brinquedo, uma pessoa... Pode ser uma lembrança boa ou daquelas que arrepiam. Claro que você tem algo assim pra recordar. Eu tenho várias, mas a que volta vez ou outra foi quando descobri que Papai Noel era, na verdade, o dono da loja de brinquedos, amigo do meu pai. Vi ele entregar a bicicleta, no portão de casa, dia 24 à tarde.

Pior do que descobrir a inexistência do barbudo, amiga, foi ser cobrada pela minha mãe a não contar para meus irmãos (eu com 10 anos, mano com 8 e maninha com 2). Segurar a revelação pro meu irmão até era fácil. Dois ou três anos mais e boa. Ele acabaria sacando que algo estava estranho - assim como eu saquei. Mas, e minha irmã, que tinha uma longa jornada de ingenuidade pela frente? Maldição das irmãs mais velhas!

O complicado era quando batia aquela vontade cruel de sacanear os manos depois de alguma briga ou de levar bronca dos pais por algo que eu não fiz e foi obra, sim, de um deles. Vontade de gritar: "Papai Noel não existe, bobões!" Eu me contorcia por dentro quando momentos assim me vinham. Devo confessar que até hoje acho que fui muito madura guardando um segredo desses - e depois zelando para que meu irmão do meio não abrisse o bico pra caçula quando ele, um ano depois, fez a sua descoberta. Missão complicada que só acabou quando minha irmã, aos 6 anos, veio toda cheia me dizer: "Sabe de uma coisa? Papai Noel não existe!". Na hora bateu muita raiva. Imagine se eu ainda acreditasse no velhinho? (Tá! Sei que aos 14 anos isso seria quase impossível, mas, e daí?) Que sacanagem! Tudo o que eu tinha passado pra não dizer nada a ela... e a danada vem assim, a seco. Mas não deixei por menos. Olhei nos olhos da caçula com a maior cara de mana mais velha. E soltei: "Querida, sei disso há muuuuuuuuito tempo!". Virei as costas e sai com aquele sorrisinho cruel no canto da boca.

........................

Tem outra lembrança da infância que às vezes bate, fazendo-me voltar no tempo: o nosso quintal. Era enorme... comprido. E cheio de bat-cavernas, naves espaciais... ali, especialmente com meu irmão, dois anos mais novo que eu, vivíamos aventuras incríveis! Os seriados, que assistíamos à tardinha, depois da lição feita, viravam inspiração para as brincadeiras que compartilhávamos no quintal. Transformar o muro em painel da nave de Perdidos no Espaço era uma diversão. Lembro que meu irmão pregava tampas velhas de panela e rodinhas dos carrinhos quebrados naquele muro, que eram os controles para dirigirmos a nave. O barracão, no fundo, virava a bat-caverna, com milhares de artifícios para vencer o mal. E, no final de tudo, voltávamos à Terra ou à mansão do homem-morcego, chamados pela minha mãe, que avisava que o copo de café com leite e o bolo de laranja estavam prontos. O nosso lanchinho diário.

Sentávamos no degrau da cozinha para comer, tendo ao fundo a rádio novela ou o programa da Hebe Camargo. E, até hoje, quando passo em alguns lugares - raros - sinto o cheiro da cêra vermelha que minha mãe passava no chão da cozinha e que eu sempre associei à limpeza e à infãncia... lembranças...

.......................

Hoje tenho uma "neta torta", como diz meu marido. Cada vez que a vejo - e hoje está com 4 meses - fico emocionada. Nem sei bem porquê, mas é um misto do que fui, do que vivi com meu filho e do que a vida traz todas as vezes que uma criança nasce. Não sei explicar, mas olho para ela e me emociono. Vontade louca de ganhar o poder de reviver meus 4 meses e entendê-los, já que lá atrás, quando eu ainda nem engatinhava, qualquer consciência inexistia. Talvez, se tivéssemos essa lembrança, desde a hora em que a luz deste mundo cega nossos olhos, entenderíamos muito mais de nós mesmos.

Como será que meus pais me viram assim, tão pequena e desprotegida? Será que meu pai se conformou logo de eu ser menina (ele queria um menino, declaradamente)? E minha mãe, com 22 anos? O que bateu nela? Teve tanto medo como eu tive quando meu filho veio para amamentar pela primeira vez? E qual será que foi a minha sensação quando eu disse a primeira palavra inteira? Me dei conta de que estava certa? Será que saquei só quando minha mãe bateu palmas e me abraçou forte pedindo que eu a repetisse? E quando comecei a andar. Que raciocínio eu segui para poder ficar em pé e dar um passo pós outro? Usei da observação pura ou um instinto estava ali, presente, pronto a me colocar em pé? Será que realmente eu gostava do leite materno ou, por falta de opção, acabava aceitando aquela coisa amarga?

E aos dois anos, quando meu irmão nasceu. Tive ciúmes? Fiquei feliz? Aliás, será que eu entendi o que estava acontecendo e que aquele garoto fofo e chorão era meu irmão e não mais um brinquedo?

A primeira injeção que tomei... o tombo que levei, antes mesmo de caminhar... Quer saber? Melhor que a nossa lembrança não vá até os primórdios. Porque tem coisas que... deixa pra lá...

Mariângela de Almeida escreve no blog ditosrabiscos.blogspot.com

Conto - Mariângela de Almeida

Faye Yong, Rivers of Gold


Boleira enroleira

Não adianta. Eu até tentei assistir ao futebol com olhos masculinos. Procurei participar das discussões apaixonadas, comentando o impedimento ou o possível penalti. Mas não dá. Que eu gosto da bola rolando, eu gosto. Acho bem bacana essa coisa dos 11 em cada lado, o goleiro rendido, as traves, a emoção da torcida. Assisto e torço, especialmente quando o meu time joga. Mas meu time não joga... não tem jogado. Uma porque tá ruim à beça, outra porque já caiu fora do campeonato (consequência de uma péssima performance, é claro). Mas eles nem sabem que eu desconheço a escalação e já me esqueci o nome do técnico - acho que trocou recentemente. Mas do goleiro, eu não me esqueço... São Marcos!!!

Tudo bem porque sobraram times que até curto acompanhar.

Mas não no mesmo ritmo e no mesmo pique dos marmanjos com quem vez ou outra divido a tela da TV, numas de estar ali e fazer parte.

Faço parte, eu sei. Mas do meu jeito.

Observo os patrocinadores decalcados nos uniformes. E acho muito engraçado que uma empresa aprove ter seu nome estampado na bunda do atleta. Cada um, cada um...

Olho as coxas de alguns e os gambitos de outros. Jogador de futebol brasileiro,com raras exceções, é feio que doi. Mas as coxas aliviam. São fortes, torneadas... Valem o esforço de tentar entender por que, meu Deus, o cara cai vitimado por uma falta, rola no chão que nem minhoca, faz careta de dor, como se estivesse à beira da morte, depois levanta e sai saltitando pra continuar na peleja. Que drama!

Também fico de olho nas cusparadas. Você já reparou como esses caras cospem no campo? E depois caem lá, de cara no gramado... Ou, ainda, quando o juiz aponta o meio do campo, pra encerrar o primeiro tempo, e de suor pingando eles trocam a camisas e... se abraçam!!!

E o juiz? Que figura, né? Legal mesmo é quando ele participa de alguma jogada.

Minha torcida incondicional é sempre para o goleiro. De qualquer time. Que situação!!! Ainda bem que não sou mãe de um deles, porque enfartaria, com certeza.

Mas o melhor de tudo, a meu ver, são os comentaristas. Ontem mesmo, me diverti com uma dupla que, diante de uma jogada x, começou a profetizar: "ele deve ter feito isso porque se lembrou daquelas jogada no jogo y, em 2003, quando a bola veio pela esquerda e ele não dominou, usando a direita", e o outro: "Ele está pensando que agora, mesmo com esse lance, não tem como dominar desse jeito com a marcação do fulano". Quanta sabedoria!

Gosto também da participação dos telespectadores, online. Cada pergunta... e agora tem uns que mandam a foto ou se exibem pela webcam! Um mico!

Pois é assim que me envolvo. E não ligo por não saber nem de longe o que seja, afinal, impedimento. Muito menos as regras do goleiro para pegar a bola recuada. Nada! Tô feliz com o meu jeito de assistir à pelada. E adoro quando chega o meio tempo, porque as propagandas de cerveja estão cada vez melhores...

TUDA - pap.el el.etrônico

Em associação com Casa Pyndahýba Editora

Ano I Número 9 - Setembro 2009

Conto - Mariângela de Almeida

Ao pé da letra

O cara era assim: tudo, absolutamente tudo, ele seguia à risca. Bula de remédio, lei de trânsito, rótulo em produto... nada questionado. Só cumprido, tim tim por tim tim. O pessoal do escritório onde ele trabalhava já sabia. Aí era pura gozação diariamente. Pregavam rótulos em tudo, com orientações trocadas, porque sabiam que ele seguiria. Uma vez foi no papel higiênico. Na etiqueta, a indicação: "use sempre o lado de dentro do papel para se limpar". E o cara seguia certinho, no maior malabarismo. No almoxarifado, invertiam as ordens. ESTE LADO PARA CIMA. Ele pegava o pacote pelo fundo e tudo caia no chão... mas que culpa ele teria se era essa a indicação? Nenhuma. Outra boa: na porta vai e volta, no lugar do "empurre" puseram o "puxe" e vice e versa. Lá ia ele. Numa força homérica, mas empurrrrannnnndo e puxxxaaaannndo até conseguir. Virou motivo de piada, é claro. Mas tudo tem dois lados: o ruim e o nem tanto.

O tal era figura honestíssima. Lei de Gerson com ele, nem pensar, sem chance! A saúde também estava em dia: exames feitos rigorosamente no período pedido, tratamentos seguidos ponto a ponto. Mas, cá entre nós, por outro lado, o cara era um chato. Nenhuma regra quebrada, nenhuma saidinha pela esquerda. Beber meia cervejinha antes de dirigir? Nada! Ta dito lá: "Se beber, não dirija". Então, necas de "pitibiriba". Com a esposa, com quem vivia há 26 anos, sempre com camisinha. "Mas, amor!!! Eu faço os exames anuais, eu sou fiel a você... podemos, depois de tanto tempo e três filhos, liberar um pouco". E ele nem pestanejava: "Sexo seguro, só com camisinha".

Era o dedo-duro quando via gente infringindo a lei do trânsito. Apontava aos fiscais os fumantes em local proibido. Uma coisa de retidão. Contas para pagar, então. Nem um dia a mais nem a menos. Vence dia 30? Paga dia 30! Sem pechinchar também. Se o sapato custa 120 reais, pagará 120 reais e ponto.

Mas o excesso de regras acaba confundindo mais quem as segue do que quem não está nem aí. Porque são tantas...algumas até meio sobrepostas. Foi o que aconteceu com ele... começou a achar o seu casamento um saco. Acabou o tesão, o amor, a cumplicidade... tudo virou mera formalidade que o sufocava. Mas se manteve fiel, porque tinha jurado, no altar, respeitá-la em todos os sentidos. Jamais quebraria uma regra dessas, ainda mais com cunho religioso: "Deus me livre!" Mas mesmo os retos na fé e na vida se enchem e se estressam. Não podia abandoná-la muito menos ter amante... foi quando lembrou-se da frase emblemática e definitiva, após o "sim" matrimonial: "Até que a morte os separe!"

Matou a mulher e está preso. Mas a consciência permanece tranquilinha, tranquilinha.

http://ditosrabiscos.blogspot.com

TUDA - pap.el el.etrônico

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 6 - Junho 2009
Conto - Mariângela de Almeida


Fé... de menos

Nunca acreditei nisso. Maldito ceticismo sem graça que só me atrapalha! Mas nada como a vida, sábia encarregada das porradas cotidianas, pra gente se rever e dar mão à palmatória, parar de cuspir pra cima ou sentar no formigueiro achando que nada vai abundar. Não me apresse que já conto o que me deixou desse jeito. Preciso, primeiro, respirar fundo.

Eu rezava aquele terço imenso, toda noite, ao pé do rádio, acompanhando o padre de sei lá onde, num AM 'estéril'. Muito eu nem escutava...era um bzzzz....zzz...luchhhh....fiuuu.... de tanto chiado. Mas eu seguia... ave-maria, pai-nosso... creio em Deus Pai... Tudo ia bem até a primeira carreirinha de contas rosas. Depois, meu amigo, era um decoreba, um trem sem sentido que brotava de minha boca mole e da mente ausente: ave-nosso... pai-maria... creio Pai... em Deus credo... Até que um dia, no meio dessa ladainha noturna, ouvi um uivo forte e agudo, perto da entrada. Fiz com a mão um "em nome do Pai" e encarei de frente, abrindo a porta. Quase cai de costas sobre a cruz de madeira que fica a espreitar da varanda de casa. Vi a besta, vi o dito - eu que só acreditava em anjo e santo, com aquela luminária na cabeça. Quase mijei nas calças, mas fiquei firme, de terço em punho. O bicho agonizava deitado aos meus pés. Uivava como se uma faca cravasse seu peito peludo. E não é que era mesmo um punhal de prata? Mas olhei nos olhos da coisa, as lágrimas do danado escorriam. Acredita que fiquei com pena do tal? Que me ajoelhei e rezei para que aquilo lá não doesse mais? E quando fiz isso - que doida que eu sou - a pata do monstro encostou na minha mão. Juro que ouvi um ronronar baixinho: "tira isso daí pra mim, tira?" Eu não sei de onde arranjei coragem - acho que do terço que larguei nas ancas da fera -, porque apoiei meu pé no dito e com força puxei a afiada do meio do peito sangrando. Não... não... pode se tranquilizar. Sente-se e termine o seu chá. Ele não vai te fazer nada, não. Hoje sai cedo e volta bem tarde, porque é lua cheia. Tem tarefas para realizar - 'vai com Deus, menino!'

Mas é isso, amigo, depois da tal noite, salvei o lobo da morte e hoje ele mora comigo. De dia, ajuda nos trabalhos de casa, faz massagem nos meus pés quando tô tensa. A noite, se a lua for outra, jantamos juntos, rezamos o terço e, dependendo de minha disposição, rolamos no chão, fazendo sexo selvagem, porque não sou santa, né? Mas, creio.

Autores

Ademir Demarchi Adriana Pessolato Adília Lopes Afobório Agustín Ubeda Alan Kenny Alberto Bresciani Alberto da Cunha Melo Aldo Votto Alejandra Pizarnik Alessandro Miranda Alexei Bueno Alexis Pomerantzeff Ali Ahmad Said Asbar Almandrade Alyssa Monks Amadeu Ferreira Ana Cristina Cesar Ana Paula Guimarães Andrew Simpson Anthony Thwaite Antonio Brasileiro Antonio Cisneros Antonio Gamoneda Antonio Romane António Nobre Ari Candido Fernandes Ari Cândido Aristides Klafke Arnaldo Xavier Atsuro Riley Aurélio de Oliveira Banksy Bertolt Brecht Bo Mathorne Bob Dylan Bruno Tolentino Calabrone Camila Alencar Carey Clarke Carla Andrade Carlos Barbosa Carlos Bonfá Carlos Drummond de Andrade Carlos Eugênio Junqueira Ayres Carlos Pena Filho Carol Ann Duffy Carolyn Crawford Cassiano Ricardo Cecília Meireles Celso de Alencar Cesar Cruz Charles Bukowski Chico Buarque de Hollanda Chico Buarque de Hollanda and Paulo Pontes Claudia Roquette-Pinto Constantine Cavafy Conteúdos Cornelius Eady Cruz e Souza Cyro de Mattos Cândido Rolim Dantas Mota David Butler Denise Freitas Desmond O’Grady Dimitris Lyacos Dino Valls Dom e Ravel Donald Teskey Donizete Galvão Donna Acheson-Juillet Dorival Fontana Dylan Thomas Décio Pignatari Edgar Allan Poe Edson Bueno de Camargo Eduardo Miranda Eduardo Sarno Eduvier Fuentes Fernández Elaine Garvey Elizabeth Bishop Enio Squeff Ernest Descals Eugénio de Andrade Evgen Bavcar Fernando Pessoa Fernando Portela Ferreira Gullar Firmino Rocha Francisco Niebro George Callaghan George Garrett Gey Espinheira Gherashim Luca Gil Scott-Heron Gilberto Nable Glauco Vilas Boas Gonçalves Dias Grant Wood Gregório de Matos Guilherme de Almeida Hamilton Faria Henri Matisse Henrique Augusto Chaudon Henry Vaughan Hilda Hilst Hughie O'Donoghue Husam Rabahia Ian Iqbal Rashid Ingeborg Bachmann Issa Touma Italo Ramos Itamar Assumpção Iulian Boldea Ivan Donn Carswell Ivan Justen Santana Ivan Titor Ivana Arruda Leite Izacyl Guimarães Ferreira Jacek Yerka Jack Butler Yeats Jackson Pollock Jacob Pinheiro Goldberg Jacques Roumain James Joyce James Merril James Wright Jan Nepomuk Neruda Jason Yarmosky Jeanette Rozsas Jim McDonald Joan Maragall i Gorina Joaquim Cardozo Joe Fenton John Doherty John Steuart Curry John Updike John Yeats Josep Daústin José Carlos de Souza José Geraldo de Barros Martins José Inácio Vieira de Melo José Miranda Filho José Paulo Paes José Ricardo Nunes José Saramago José de Almada-Negreiros João Cabral de Melo Neto João Guimarães Rosa João Werner Junqueira Ayres Kerry Shawn Keys Konstanty Ildefons Galczynski Kurt Weill Leonardo André Elwing Goldberg Lluís Llach I Grande Lou Reed Luis Serguilha Luiz Otávio Oliani Luiz Roberto Guedes Luther Lebtag Léon Laleau Lêdo Ivo Magnhild Opdol Manoel de Barros Marco Rheis Marcos Rey Mari Khnkoyan Maria do Rosário Pedreira Marina Abramović Marina Alexiou Mario Benedetti Mario Quintana Mariângela de Almeida Marly Agostini Franzin Marta Penter Marçal Aquino Masaoka Shiki Maser Matilde Damele Matthias Johannessen Michael Palmer Miguel Torga Mira Schendel Moacir Amâncio Mr. Mead Murilo Carvalho Murilo Mendes Márcio-André Mário Chamie Mário Faustino Mário de Andrade Mário de Sá-Carneiro Nadir Afonso Nuala Ní Chonchuír Nuala Ní Dhomhnaill Nâzım Hikmet Odd Nerdrum Orides Fontela Orlando Gibbons Orlando Teruz Oscar Niemeyer Osip Mandelstam Oswald de Andrade Pablo Neruda Pablo Picasso Patativa do Assaré Paul Funge Paul Henry Paulo Afonso da Silva Pinto Paulo Cancela de Abreu Paulo Henriques Britto Paulo Leminski Pedro Du Bois Pedro Lemebel Pete Doherty Petya Stoykova Dubarova Pink Floyd Plínio de Aguiar Pádraig Mac Piarais Qi Baishi Rafael Mantovani Ragnar Lagerbald Raquel Naveira Raul Bopp Regina Alonso Renato Borgomoni Renato Rezende Renato de Almeida Martins Ricardo Portugal Ricardo Primo Portugal Ronald Augusto Roniwalter Jatobá Rowena Dring Rui Carvalho Homem Rui Lage Ruy Belo Ruy Espinheira Filho Ruzbihan al-Shirazi Régis Bonvicino Salvado Dalí Sandra Ciccone Ginez Santiago de Novais Saúl Dias Scott Scheidly Seamus Heaney Sebastian Guerrini Sebastià Alzamora Shahram Karimi Shorsha Sullivan Sigitas Parulskis Silvio Fiorani Smokey Robinson Sohrab Sepehri Sophia de Mello Breyner Andresen Souzalopes Susana Thénon Susie Hervatin Suzana Cano Sílvio Ferreira Leite Sílvio Fiorani The Yes Men Thom Gunn Tim Burton Tomasz Bagiński Torquato Neto Túlia Lopes Vagner Barbosa Val Byrne Valdomiro Santana Vera Lúcia de Oliveira Vicente Werner y Sanchez Victor Giudice Vieira da Silva Vinícius de Moraes W. B. Yeats W.H. Auden Walt Disney Walter Frederick Osborne William Kentridge Willian Blake Wladimir Augusto Yves Bonnefoy Zdzisław Beksiński Zé Rodrix Álvaro de Campos Éle Semog