Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 6 - Junho 2009Poesia - Jacob Pinheiro Goldberg
A Poesia De Jacob Pinheiro Goldberg
Sobre a poesia de Jacob Pinheiro Goldberg o doutor João Adolfo Hansen, professor titular de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo, escreveu: “A primeira vez que vi Jacob Pinheiro Goldberg, ele estava na TV, falando do sadismo da burguesia brasileira que goza fazendo o povo sofrer. Desde então, passei a gostar muito dele. Depois, fiquei sabendo pela minha amiga Marília Librandi, que escreve a introdução exata e delicada deste livro, que Jacob nasceu em Juiz de Fora. Era Pinchas, judeu de origem polonesa, mas desabitou o nome, virou Pinheiro. O Brasil é mesmo impossível. Acho que cresceu como qualquer um de nós, sobrevivendo às contingências da vida daqui. Parentes dele foram assassinados em campos nazistas. Estudou Direito, para descobrir que a Lei submete e que o Espírito liberta. Ateu, passou à psicanálise freudiana. A matéria da sua poesia é essa desabitação, essa despossessão, esse estar não-estando de quem medita as perdas levado pelo vento do mundo. Na sombra, à esquerda da linguagem, ele escreve poesia com o sangue da experiência do real. É poesia elegíaca e trágica, uma lamentação que contra-efetua o acontecimento da dor, elaborando o sofrimento para resistir à destruição e à amargura do mal. Você, que agora lê esta orelha, talvez pense que essa forma de expressão da dor é própria da experiência histórica do povo judeu. E pensará bem, com razão. Mas só em parte. Jacob sabe que nascer judeu ou palestino, índio ou espanhol é só acidente, pois o que realmente importa é o que fazemos com o que fizerem de nós. Kafka, por exemplo, quis escrever como um vira-lata para apagar as marcas da Lei gravadas na pele. Jacob é dessa família de desgarrados magníficos que dizem não serviam, ‘não servirei’. Inconformado com a vida, revoltado com a morte, escreve sua poesia na fronteira do Paraguai com a Finlância, aquele não-lugar onde as etnias, as nacionalidades, as religiões, as classes e os sexos finalmente foram abolidos e só sobrou a liberdade da descrença radical dos valores herdados. A liberdade de Jacob é livre, ou seja, generosa, e faz seus poemas espaçosos para recolherem compassivamente os cacos da história universal de um ‘nós’ despedaçado. São fortes, os poemas de Jacob, duros, intensos, sem nenhum consolo, comoventes. Podem até fazer desesperados pensar que, se ainda há homens como ele, há esperança para todos. Daqui desta orelha eu mando meu abraço pra ele.”
(in “Poemas-vida, antologia de Jacob Pinheiro Goldberg”, organizado e apresentado por Marília Librandi Rocha, professora de Teoria Literária no Departamento de Estudos Lingüísticos e Literarios da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo e, a partir de dezembro de 2008, professora da Stanford University, CA, EUA - Editora 7 Letras, Rio de Janeiro, 2008).
Sobre a poesia de Jacob Pinheiro Goldberg o doutor João Adolfo Hansen, professor titular de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo, escreveu: “A primeira vez que vi Jacob Pinheiro Goldberg, ele estava na TV, falando do sadismo da burguesia brasileira que goza fazendo o povo sofrer. Desde então, passei a gostar muito dele. Depois, fiquei sabendo pela minha amiga Marília Librandi, que escreve a introdução exata e delicada deste livro, que Jacob nasceu em Juiz de Fora. Era Pinchas, judeu de origem polonesa, mas desabitou o nome, virou Pinheiro. O Brasil é mesmo impossível. Acho que cresceu como qualquer um de nós, sobrevivendo às contingências da vida daqui. Parentes dele foram assassinados em campos nazistas. Estudou Direito, para descobrir que a Lei submete e que o Espírito liberta. Ateu, passou à psicanálise freudiana. A matéria da sua poesia é essa desabitação, essa despossessão, esse estar não-estando de quem medita as perdas levado pelo vento do mundo. Na sombra, à esquerda da linguagem, ele escreve poesia com o sangue da experiência do real. É poesia elegíaca e trágica, uma lamentação que contra-efetua o acontecimento da dor, elaborando o sofrimento para resistir à destruição e à amargura do mal. Você, que agora lê esta orelha, talvez pense que essa forma de expressão da dor é própria da experiência histórica do povo judeu. E pensará bem, com razão. Mas só em parte. Jacob sabe que nascer judeu ou palestino, índio ou espanhol é só acidente, pois o que realmente importa é o que fazemos com o que fizerem de nós. Kafka, por exemplo, quis escrever como um vira-lata para apagar as marcas da Lei gravadas na pele. Jacob é dessa família de desgarrados magníficos que dizem não serviam, ‘não servirei’. Inconformado com a vida, revoltado com a morte, escreve sua poesia na fronteira do Paraguai com a Finlância, aquele não-lugar onde as etnias, as nacionalidades, as religiões, as classes e os sexos finalmente foram abolidos e só sobrou a liberdade da descrença radical dos valores herdados. A liberdade de Jacob é livre, ou seja, generosa, e faz seus poemas espaçosos para recolherem compassivamente os cacos da história universal de um ‘nós’ despedaçado. São fortes, os poemas de Jacob, duros, intensos, sem nenhum consolo, comoventes. Podem até fazer desesperados pensar que, se ainda há homens como ele, há esperança para todos. Daqui desta orelha eu mando meu abraço pra ele.”
(in “Poemas-vida, antologia de Jacob Pinheiro Goldberg”, organizado e apresentado por Marília Librandi Rocha, professora de Teoria Literária no Departamento de Estudos Lingüísticos e Literarios da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo e, a partir de dezembro de 2008, professora da Stanford University, CA, EUA - Editora 7 Letras, Rio de Janeiro, 2008).
Solilóquio Do Faraó
A sedução deste mago ingrato,
Carrega o povo maldito para o Deserto.
Abandona a segurança, a certeza e a
Tranqüilidade, atrás dum Deus da
Imaginação, sem imagens e sem figura,
Que estranho.
Povo maldito, que substitui o trabalho
E a disciplina por uma louca anarquia
Que chama liberdade, insubmissos e
Polêmicos.
Povo maldito, errante pelo deserto,
Atrás de ilusões e palavras.
Amantes do ritual e do teatro,
Iconoclastas, sem reis e sem hierarquia.
Renegam todos os deuses e
Adoram o Sonho.
Povo maldito que há de padecer,
Na dúvida e na busca.
(in A Mágica Do Exílio - Magia Wygnania)
Mágica Do Exílio (2)
Ao contrário do que se concebe
não foi o encontro
a origem desta
revelação
a origem foi o desterro
no país dos fantasmas
da América
mergulho nas palavras mortas
cinzas da razão de ser
e a partida seguindo os apagados rastros
do caminho a Kandire
Terra sem Mal.
Ao contrário do que se concebe
não foi o encontro
a origem desta
revelação
a origem foi o desterro
no país dos fantasmas
da América
mergulho nas palavras mortas
cinzas da razão de ser
e a partida seguindo os apagados rastros
do caminho a Kandire
Terra sem Mal.
(in A Mágica Do Exílio - Magia Wygnania)
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