Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

TUDA - pap.el el.etrônico

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 7 - Julho 2009
Conto - Afobório

Antes de Dormir.


Diana era contorcionista. Gostava de arrepiar a platéia com a sua espinha de serpente e seus olhos cor de mel. Em pouco tempo, era sucesso no circo. O público a amava e a sua doçura e o seu talento também conquistaram o dono da companhia. O homem a olhava no picadeiro e tinha certeza de que a queria. E por isso, passava as noites a espreitar o motorhome onde a artista dormia. Ele chegava até a porta sempre, e na hesitação escolhia a janela.

Embora a abertura retangular fosse bem pequena e um tanto alta do chão para o tamanho do olheiro, o mesmo apoiava os pés sobre a roda e alcançava a verticalidade exigida. Com uma mão mantinha o equilíbrio e com a outra se estimulava. A posição incômoda gerava uma câimbra horrível, daquelas que endurecia o tendão por toda a perna, e mesmo assim ele agüentava.

Normalmente chegava às 23h, quando Diana já estava nua, pronta para o banho. Ele via aqueles cabelos soltos e imaginava os mesmos cachos a lhe cutucar o peito enquanto a musa lhe cobria de amor. Era uma fascinação. Via que a linda e esguia garota bebia uma pequena dose. A garrafa sobre a mesa sugava a iluminação e a cereja fazia papel de ilha no universo daquele Martini seco a relaxar toda aquela delícia de mulher.

Ela andava de um lado para o outro, dançava e abria os braços e ouvia Soul. Era tão encantadora e açucarada, que enquanto requebrava o corpo, transformava a solidão em espetáculo divinal para seu apreciador. Embora fosse uma situação inusitada, ela não sentia medo, achava até romântico.

Sua única precaução era chavear a porta e deixar sua arma bem próxima e carregada, caso houvesse algum problema ela poderia se defender muito bem. Sentia um prazer enorme em saber que era espiada e não conseguia parar com aquele jogo. E nem mesmo o fato de desconhecer a identidade e a periculosidade do homem a castrava, por que a sensação de ser venerada enchia seu peito de satisfação tanto quanto os aplausos vindos da arquibancada embaixo da lona colorida de amarelo, verde, vermelho e azul.

A mulher bebia e fumava em pêlo e fazia questão de mostrar seu sexo. Quando sentava, inclinava o corpo para o lado e deixava tudo que pudesse em total posição de exposição. Ela passava sua unha comprida sobre sua cocha e fazia o cara na janela se arrepiar nuca abaixo.

Ela esperava pelo gemido do homem, e algum instante depois do grunhido acendia um cigarro; dava duas ou três fumadas, largava o enfumaçado no cinzeiro e ia para o banheiro. O clima proporcionado pela luz brincava com a imaginação do dono do circo, que via aquele ambiente aconchegante e decorado pela luxúria, tudo isso, graças à pequena janela que enquadrava totalmente a porta do banheiro aberta, e aquela silhueta perfeita de mulher a receber bons pingos sem nenhuma vergonha. A impressão do velhote era de que a água resfriava a pele da artista e incendiava a sua.

Quando Diana saía da ducha, vinha para frente do sofá ainda molhada, bebia mais um gole e depois espojava o corpo. Ali, ela permanecia um bom tempo, a derramar pequenos fios de álcool sobre seu corpo limpo e branco. Era uma provocação sem tamanho, e aos poucos começava a tocar o próprio sexo. Em segundos estava em pleno orgasmo, isso deixava o observador mais maluco ainda.

Depois, cansada da brincadeira, dormia ali mesmo, sem dar importância ao homem pendurado na janela. Ela sentia uma liberdade, um valor que a tocava no coração e no sexo, por isso gostava tanto da situação. Pela manhã, acordava disposta e feliz, e andava por entre os homens a encará-los nos olhos, não por que queria descobrir o seu espreitador, mas sim para agradecer e garantir aplausos dentro e fora do picadeiro, enquanto ela, só ela se auto-amava de verdade.


Afobório é o editor do e-blogue.

No comments:

Autores

Ademir Demarchi Adília Lopes Adriana Pessolato Afobório Agustín Ubeda Alan Kenny Alberto Bresciani Alberto da Cunha Melo Aldo Votto Alejandra Pizarnik Alessandro Miranda Alexei Bueno Alexis Pomerantzeff Ali Ahmad Said Asbar Almandrade Álvaro de Campos Alyssa Monks Amadeu Ferreira Ana Cristina Cesar Ana Paula Guimarães Andrew Simpson Anthony Thwaite Antonio Brasileiro Antonio Cisneros Antonio Gamoneda António Nobre Antonio Romane Ari Cândido Ari Candido Fernandes Aristides Klafke Arnaldo Xavier Atsuro Riley Aurélio de Oliveira Banksy Bertolt Brecht Bo Mathorne Bob Dylan Bruno Tolentino Calabrone Camila Alencar Cândido Rolim Carey Clarke Carla Andrade Carlos Barbosa Carlos Bonfá Carlos Drummond de Andrade Carlos Eugênio Junqueira Ayres Carlos Pena Filho Carol Ann Duffy Carolyn Crawford Cassiano Ricardo Cecília Meireles Celso de Alencar Cesar Cruz Charles Bukowski Chico Buarque de Hollanda Chico Buarque de Hollanda and Paulo Pontes Claudia Roquette-Pinto Constantine Cavafy Conteúdos Cornelius Eady Cruz e Souza Cyro de Mattos Dantas Mota David Butler Décio Pignatari Denise Freitas Desmond O’Grady Dimitris Lyacos Dino Valls Dom e Ravel Donald Teskey Donizete Galvão Donna Acheson-Juillet Dorival Fontana Dylan Thomas Edgar Allan Poe Edson Bueno de Camargo Eduardo Miranda Eduardo Sarno Eduvier Fuentes Fernández Elaine Garvey Éle Semog Elizabeth Bishop Enio Squeff Ernest Descals Eugénio de Andrade Evgen Bavcar Fernando Pessoa Fernando Portela Ferreira Gullar Firmino Rocha Francisco Niebro George Callaghan George Garrett Gey Espinheira Gherashim Luca Gil Scott-Heron Gilberto Nable Glauco Vilas Boas Gonçalves Dias Grant Wood Gregório de Matos Guilherme de Almeida Hamilton Faria Henri Matisse Henrique Augusto Chaudon Henry Vaughan Hilda Hilst Hughie O'Donoghue Husam Rabahia Ian Iqbal Rashid Ingeborg Bachmann Issa Touma Italo Ramos Itamar Assumpção Iulian Boldea Ivan Donn Carswell Ivan Justen Santana Ivan Titor Ivana Arruda Leite Izacyl Guimarães Ferreira Jacek Yerka Jack Butler Yeats Jackson Pollock Jacob Pinheiro Goldberg Jacques Roumain James Joyce James Merril James Wright Jan Nepomuk Neruda Jason Yarmosky Jeanette Rozsas Jim McDonald Joan Maragall i Gorina João Cabral de Melo Neto João Guimarães Rosa João Werner Joaquim Cardozo Joe Fenton John Doherty John Steuart Curry John Updike John Yeats José Carlos de Souza José de Almada-Negreiros José Geraldo de Barros Martins José Inácio Vieira de Melo José Miranda Filho José Paulo Paes José Ricardo Nunes José Saramago Josep Daústin Junqueira Ayres Kerry Shawn Keys Konstanty Ildefons Galczynski Kurt Weill Lêdo Ivo Léon Laleau Leonardo André Elwing Goldberg Lluís Llach I Grande Lou Reed Luis Serguilha Luiz Otávio Oliani Luiz Roberto Guedes Luther Lebtag Magnhild Opdol Manoel de Barros Marçal Aquino Márcio-André Marco Rheis Marcos Rey Mari Khnkoyan Maria do Rosário Pedreira Mariângela de Almeida Marina Abramović Marina Alexiou Mario Benedetti Mário Chamie Mário de Andrade Mário de Sá-Carneiro Mário Faustino Mario Quintana Marly Agostini Franzin Marta Penter Masaoka Shiki Maser Matilde Damele Matthias Johannessen Michael Palmer Miguel Torga Mira Schendel Moacir Amâncio Mr. Mead Murilo Carvalho Murilo Mendes Nadir Afonso Nâzım Hikmet Nuala Ní Chonchuír Nuala Ní Dhomhnaill Odd Nerdrum Orides Fontela Orlando Gibbons Orlando Teruz Oscar Niemeyer Osip Mandelstam Oswald de Andrade Pablo Neruda Pablo Picasso Pádraig Mac Piarais Patativa do Assaré Paul Funge Paul Henry Paulo Afonso da Silva Pinto Paulo Cancela de Abreu Paulo Henriques Britto Paulo Leminski Pedro Du Bois Pedro Lemebel Pete Doherty Petya Stoykova Dubarova Pink Floyd Plínio de Aguiar Qi Baishi Rafael Mantovani Ragnar Lagerbald Raquel Naveira Raul Bopp Regina Alonso Régis Bonvicino Renato Borgomoni Renato de Almeida Martins Renato Rezende Ricardo Portugal Ricardo Primo Portugal Ronald Augusto Roniwalter Jatobá Rowena Dring Rui Carvalho Homem Rui Lage Ruy Belo Ruy Espinheira Filho Ruzbihan al-Shirazi Salvado Dalí Sandra Ciccone Ginez Santiago de Novais Saúl Dias Scott Scheidly Seamus Heaney Sebastià Alzamora Sebastian Guerrini Shahram Karimi Shorsha Sullivan Sigitas Parulskis Sílvio Ferreira Leite Silvio Fiorani Sílvio Fiorani Smokey Robinson Sohrab Sepehri Sophia de Mello Breyner Andresen Souzalopes Susana Thénon Susie Hervatin Suzana Cano The Yes Men Thom Gunn Tim Burton Tomasz Bagiński Torquato Neto Túlia Lopes Vagner Barbosa Val Byrne Valdomiro Santana Vera Lúcia de Oliveira Vicente Werner y Sanchez Victor Giudice Vieira da Silva Vinícius de Moraes W. B. Yeats W.H. Auden Walt Disney Walter Frederick Osborne William Kentridge Willian Blake Wladimir Augusto Yves Bonnefoy Zdzisław Beksiński Zé Rodrix