Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

Tradução - Eduardo Miranda



Price Henry, Island Village
acrylic on canvas, 16x20 inches (41x51cm)
Dois poetas haitianos do século XX, período em que intelectuais negros haitianos começaram a questionar sua relação com a Europa e a afirmarem suas raízes africanas. Léon Laleau (1892-1979) foi poeta, romancista, dramaturgo, ensaísta, jornalista, diplomata e político haitiano. Seu primeiro romance, "Comment mademoiselle a passé sa mi-carême". Seus primeiros poemas aparecem no Le Matin e no l'Humanité. Em 1917 Léon Laleau foi premiado por ter introduzido o verso livre na poesia do Haiti. "Traição" é um dos seus poemas mais famosos. Jacques Roumain (1907-1944) foi um venerado escritor, político haitiano, grande defensor do comunismo no Haiti. Considerado uma das mais prominentes vozes da literatura haitiana, é pouco conhecido na língua inglesa, mas tem significante penetração na Europa, no Caribe e na América Latina. Embora tenha morrido muito jovem, Roumain explorou bem os temas da vida e da cultura haitiana.

Traição - Léon Laleau
Este coração endurecido, cuja batida
não sintoniza minha língua, meus costumes
Sentimentos deixados para trás, a ferida
deste aperto, dívidas de mim, negrumes
da Europa, pudera você ter na lembrança
esse aperto, pudera sentir desespero tal
Como acalmar, com palavras da França,
Este coração que veio do Senegal?

Trahison

Ce coeur obsédant, qui ne correspond
Pas à mon langage ou à mes costumes
Et sur lequel mordent, comme un crampon,
Des sentiments d’emprunt et des coutumes
D’Europe, sentez-vous cette souffrance
Et ce désespoir à nul autre égal
D’apprivoiser, avec des mots de France,
Ce coeur qui m’est venu du Sénégal?

(Trecho de) Novo sermão negro - Jacques Roumain
Eles cospem na tua cara preta
Senhor, amigo, camarada,
Tú, que vira a cara para a prostituta
Como uma cortina de juncos, os longos cabelos numa fonte de lágrimas

Eles fizeram,
os ricos, os hipócritas, os donos da terra, os banqueiros,
Fizeram seu deus sangrento a partir do sangue dos homens
Ó Judas infeliz
Ó Judas desgostoso:
O Cristo crucificado entre dois ladrões como o estopim do mundo
Acendeu a revolta de escravos
Mas hoje o Cristo habita a casa dos ladrões
De braços abertos em suas catedrais, sua carne exposta aos abutres
Enquanto nos porões dos mosteiros, os sacerdotes contam suas moedas
E sinos dobram nos campanários, anunciando a morte sobre a multidão faminta

Nós não os perdoaremos, porque eles sabem o que fizeram
Lincharam João, que organizou a União
Caçaram-no como um lobo magro, com cães pelos bosques
Penduraram-no, aos risos, no velho tronco de plátano
Não, irmãos, camaradas
Não oraremos mais
Ergue-se nossa rebelião como o grito dos pássaros sobre as águas agitadas dos pântanos fedorentos
Não cantaremos mais o desespero e a tristeza espiritual
Sai outra canção de nossas gargantas
Fincamos nossas bandeiras vermelhas
Manchadas com o nosso próprio sangue
E é sob esta bandeira que caminharemos
Sob esta bandeira caminharemos
Ergam-se, condenados da terra
Ergam-se, prisioneiros da fome.


Nouveau sermon nègre (extrait)

Ils ont craché sur Ta Face noire
Seigneur, notre ami, notre camarade
Toi qui écartas du visage de la prostituée
Comme un rideau de roseaux ses longs cheveux sur la source de ses larmes

Ils ont fait
les riches les pharisiens les propriétaires fonciers les banquiers
Ils ont fait de l’homme saignant le dieu sanglant
Oh Judas ricane
Oh Judas ricane:
Christ entre deux voleurs comme une flamme déchirée au sommet du monde
Allumait la révolte des esclaves
Mais Christ aujourd’hui est dans la maison des voleurs
Et ses bras déploient dans les cathédrales l’ombre étendue du vautour
Et dans les caves des monastères le prêtre compte les interêts des trente deniers
Et les clochers des églises crachent la mort sur les multitudes affamées

Nous ne leur pardonnerons pas, car ils savent ce qu’ils font
Ils ont lynché John qui organisait le syndicat
Ils l’ont chassé comme un loup hagard avec des chiens à travers bois
Ils l’ont pendu en riant au tronc du vieux sycomore
Non, frères, camarades
Nous ne prierons plus
Notre révolte s’élève comme le cri de l’oiseau de tempête au-dessus du clapotement pourri des marécages
Nous ne chanterons plus les tristes spirituals désespérés
Un autre chant jaillit de nos gorges
Nous déployons nos rouges drapeaux
Tachés du sang de nos justes
Sous ce signe nous marcherons
Sous ce signe nous marchons
Debout les damnés de la terre
Debout les forçats de la faim.

Eduardo Miranda é músico, escritor, poeta, e tradutor, foi guitarrista e fundador do grupo WEJAH , gravou Renascença (Faunus Discus, 1988) e Senda (PRW, 1996), publicou o livro de poemas Quase (Casa Pyndahýba, 1998) e as coletâneas Amigos (Casa Pyndahýba, 1994) e Contra Lamúria (Casa Pyndahýba, 1995). Atualmente toca numa banda de Country/Blues em Dublin, dirige o projeto musical The Virtual Em3 e é parte do Stillwater Project. Editor-mor da TUDA, dá expediente em alguns blogs por aí, e nas horas vagas é Consultor de Tecnologia da Informação na IBM em Dublin.

No comments:

Autores

Ademir Demarchi Adília Lopes Adriana Pessolato Afobório Agustín Ubeda Alan Kenny Alberto Bresciani Alberto da Cunha Melo Aldo Votto Alejandra Pizarnik Alessandro Miranda Alexei Bueno Alexis Pomerantzeff Ali Ahmad Said Asbar Almandrade Álvaro de Campos Alyssa Monks Amadeu Ferreira Ana Cristina Cesar Ana Paula Guimarães Andrew Simpson Anthony Thwaite Antonio Brasileiro Antonio Cisneros Antonio Gamoneda António Nobre Antonio Romane Ari Cândido Ari Candido Fernandes Aristides Klafke Arnaldo Xavier Atsuro Riley Aurélio de Oliveira Banksy Bertolt Brecht Bo Mathorne Bob Dylan Bruno Tolentino Calabrone Camila Alencar Cândido Rolim Carey Clarke Carla Andrade Carlos Barbosa Carlos Bonfá Carlos Drummond de Andrade Carlos Eugênio Junqueira Ayres Carlos Pena Filho Carol Ann Duffy Carolyn Crawford Cassiano Ricardo Cecília Meireles Celso de Alencar Cesar Cruz Charles Bukowski Chico Buarque de Hollanda Chico Buarque de Hollanda and Paulo Pontes Claudia Roquette-Pinto Constantine Cavafy Conteúdos Cornelius Eady Cruz e Souza Cyro de Mattos Dantas Mota David Butler Décio Pignatari Denise Freitas Desmond O’Grady Dimitris Lyacos Dino Valls Dom e Ravel Donald Teskey Donizete Galvão Donna Acheson-Juillet Dorival Fontana Dylan Thomas Edgar Allan Poe Edson Bueno de Camargo Eduardo Miranda Eduardo Sarno Eduvier Fuentes Fernández Elaine Garvey Éle Semog Elizabeth Bishop Enio Squeff Ernest Descals Eugénio de Andrade Evgen Bavcar Fernando Pessoa Fernando Portela Ferreira Gullar Firmino Rocha Francisco Niebro George Callaghan George Garrett Gey Espinheira Gherashim Luca Gil Scott-Heron Gilberto Nable Glauco Vilas Boas Gonçalves Dias Grant Wood Gregório de Matos Guilherme de Almeida Hamilton Faria Henri Matisse Henrique Augusto Chaudon Henry Vaughan Hilda Hilst Hughie O'Donoghue Husam Rabahia Ian Iqbal Rashid Ingeborg Bachmann Issa Touma Italo Ramos Itamar Assumpção Iulian Boldea Ivan Donn Carswell Ivan Justen Santana Ivan Titor Ivana Arruda Leite Izacyl Guimarães Ferreira Jacek Yerka Jack Butler Yeats Jackson Pollock Jacob Pinheiro Goldberg Jacques Roumain James Joyce James Merril James Wright Jan Nepomuk Neruda Jason Yarmosky Jeanette Rozsas Jim McDonald Joan Maragall i Gorina João Cabral de Melo Neto João Guimarães Rosa João Werner Joaquim Cardozo Joe Fenton John Doherty John Steuart Curry John Updike John Yeats José Carlos de Souza José de Almada-Negreiros José Geraldo de Barros Martins José Inácio Vieira de Melo José Miranda Filho José Paulo Paes José Ricardo Nunes José Saramago Josep Daústin Junqueira Ayres Kerry Shawn Keys Konstanty Ildefons Galczynski Kurt Weill Lêdo Ivo Léon Laleau Leonardo André Elwing Goldberg Lluís Llach I Grande Lou Reed Luis Serguilha Luiz Otávio Oliani Luiz Roberto Guedes Luther Lebtag Magnhild Opdol Manoel de Barros Marçal Aquino Márcio-André Marco Rheis Marcos Rey Mari Khnkoyan Maria do Rosário Pedreira Mariângela de Almeida Marina Abramović Marina Alexiou Mario Benedetti Mário Chamie Mário de Andrade Mário de Sá-Carneiro Mário Faustino Mario Quintana Marly Agostini Franzin Marta Penter Masaoka Shiki Maser Matilde Damele Matthias Johannessen Michael Palmer Miguel Torga Mira Schendel Moacir Amâncio Mr. Mead Murilo Carvalho Murilo Mendes Nadir Afonso Nâzım Hikmet Nuala Ní Chonchuír Nuala Ní Dhomhnaill Odd Nerdrum Orides Fontela Orlando Gibbons Orlando Teruz Oscar Niemeyer Osip Mandelstam Oswald de Andrade Pablo Neruda Pablo Picasso Pádraig Mac Piarais Patativa do Assaré Paul Funge Paul Henry Paulo Afonso da Silva Pinto Paulo Cancela de Abreu Paulo Henriques Britto Paulo Leminski Pedro Du Bois Pedro Lemebel Pete Doherty Petya Stoykova Dubarova Pink Floyd Plínio de Aguiar Qi Baishi Rafael Mantovani Ragnar Lagerbald Raquel Naveira Raul Bopp Regina Alonso Régis Bonvicino Renato Borgomoni Renato de Almeida Martins Renato Rezende Ricardo Portugal Ricardo Primo Portugal Ronald Augusto Roniwalter Jatobá Rowena Dring Rui Carvalho Homem Rui Lage Ruy Belo Ruy Espinheira Filho Ruzbihan al-Shirazi Salvado Dalí Sandra Ciccone Ginez Santiago de Novais Saúl Dias Scott Scheidly Seamus Heaney Sebastià Alzamora Sebastian Guerrini Shahram Karimi Shorsha Sullivan Sigitas Parulskis Sílvio Ferreira Leite Silvio Fiorani Sílvio Fiorani Smokey Robinson Sohrab Sepehri Sophia de Mello Breyner Andresen Souzalopes Susana Thénon Susie Hervatin Suzana Cano The Yes Men Thom Gunn Tim Burton Tomasz Bagiński Torquato Neto Túlia Lopes Vagner Barbosa Val Byrne Valdomiro Santana Vera Lúcia de Oliveira Vicente Werner y Sanchez Victor Giudice Vieira da Silva Vinícius de Moraes W. B. Yeats W.H. Auden Walt Disney Walter Frederick Osborne William Kentridge Willian Blake Wladimir Augusto Yves Bonnefoy Zdzisław Beksiński Zé Rodrix