Miltão dos Santos, Festa de Casamento
O Retrato do Sertão - 5
De manhã bem cedinho, ao comprar café na venda de Maninha, Geraldina ouviu Sá Lorena referindo-se a ela e à sua família para outras mulheres da vila. Sá Lorena dizia para as amigas que Geraldina era moça assanhada, namoradeira e que gostava de frequentar o sarau de dona Elvira sempre acompanhada de vários rapazes da região, antes de conhecer Tonho. Geraldina, que num canto da venda via e ouvia as bisbilhoteiras fazendo gestos e falando dela do outro lado, fez-se de surda. Saiu sem nada comprar e sem que elas percebessem sua presença. Mas Maninha, que conhecia Sá Lorena desde a infância quando ambas frequentaram a escola da professora Isaura, sabia do seu passado desvirtuoso e sua vida presente, achava que ela não tinha moral para falar de Geraldina. Irritou-se com o que ouvira, e dedo em riste, dirigiu-se a Sá Lorena, gritando!
- É tudo mentira, sua sem-vergonha. Eu conheço Geraldina desde pequenina, quando nasceu. Ajudei Nhá Marina cuidar dela e dos irmãos. Você é que devia olhar pro seu rabo e desdizer, se for capaz, o que os outros falam por ai de seu relacionamento com padre Fausto. O boato já se espalhou pelos quatro cantos da vila. Tome cuidado com o que diz! Você já brigou com todo mundo, até com “seu Quincas”, homem bom e direito que não se intromete na vida de ninguém. Você só não fala mal de si mesma porque não se olha no espelho, porque se olhasse iria ver a imagem de uma caapora, desdentada e feia - falava Maninha para Sá Lorena.
De manhã bem cedinho, ao comprar café na venda de Maninha, Geraldina ouviu Sá Lorena referindo-se a ela e à sua família para outras mulheres da vila. Sá Lorena dizia para as amigas que Geraldina era moça assanhada, namoradeira e que gostava de frequentar o sarau de dona Elvira sempre acompanhada de vários rapazes da região, antes de conhecer Tonho. Geraldina, que num canto da venda via e ouvia as bisbilhoteiras fazendo gestos e falando dela do outro lado, fez-se de surda. Saiu sem nada comprar e sem que elas percebessem sua presença. Mas Maninha, que conhecia Sá Lorena desde a infância quando ambas frequentaram a escola da professora Isaura, sabia do seu passado desvirtuoso e sua vida presente, achava que ela não tinha moral para falar de Geraldina. Irritou-se com o que ouvira, e dedo em riste, dirigiu-se a Sá Lorena, gritando!
- É tudo mentira, sua sem-vergonha. Eu conheço Geraldina desde pequenina, quando nasceu. Ajudei Nhá Marina cuidar dela e dos irmãos. Você é que devia olhar pro seu rabo e desdizer, se for capaz, o que os outros falam por ai de seu relacionamento com padre Fausto. O boato já se espalhou pelos quatro cantos da vila. Tome cuidado com o que diz! Você já brigou com todo mundo, até com “seu Quincas”, homem bom e direito que não se intromete na vida de ninguém. Você só não fala mal de si mesma porque não se olha no espelho, porque se olhasse iria ver a imagem de uma caapora, desdentada e feia - falava Maninha para Sá Lorena.
E continuou:
- Geraldina é bonita, jovem e gosta de viver, enquanto você é invejosa, gorda, feia e fofoqueira.... e quer saber mais uma coisa Sá Lorena, vá pra puta que a pariu, safada! Não bote nunca mais seus pés imundos aqui na venda! Aqui é lugar de respeito! E tem mais.... você se lembra quando a Professora Isaura lhe pôs de castigo por se assanhar com o Chiquinho? E, quando ela viu vocês dois agarradinhos, e ele levantando sua saia? Você se lembra, sua vagabunda? O coitado de tão envergonhado ficou, que até hoje anda de cabeça abaixada... e quase teve um entrevero com o padre Fausto. A penitencia que o padre Fausto deu a ele, ele cumpre até hoje por sua causa, tocar o sino da igreja todos os dias às seis horas da manhã... Desminta esses boatos se tiver coragem, sua nojenta!
Os ânimos só se acalmaram quando Tonho se aproximou para separá-las.
- O que está acontecendo aqui, Maninha? Perguntou Tonho.
- Esquece, foi, nada não. Respondeu Maninha botando a vassoura que trazia à mão num canto do balcão, e abotoando a blusa sobre o peito volumoso - Foi apenas um desabafo entre eu e essa safada!
- Como esquecer Maninha, se eu ouvi Sá Lorena falar qualquer coisa de Geraldina? Eu já sabia das fofocas dela, respondeu Tonho. Mas isso não vai ficar assim....Vou colocar tudo isso a limpo. Hoje à noite, antes de passar na casa de Geraldina, vou até o sitio do “seu” Juvenal, e ela vai ter que desmentir ou confirmar palavra por palavra, senão não me chamo Tonho.
Tonho montou no cavalão e saiu em disparada. Maninha gritava para ele não se preocupar. Mas, Tonho não quis ouvi-la e foi até à casa de Sá Lorena. Encontrou-a varrendo o chão do quintal, coberto de folhas de cajueiro e bostas de galinhas. Já era noitinha.
- Eu quero falar com a senhora agora! Disse Tonho enraivecido apeando do cavalo, sem sequer incomodar-se com a presença de Juvenal ao lado do oitão, com um latão de lixo à mão recolhendo a sujeira do quintal.
- O que você quer? Não tenho nada pra conversar com você, respondeu Sá Lorena, apreensiva.
- Eu quero apenas saber porquê a senhora fala tanto mal de Geraldina se ela nunca lhe destratou. O que a senhora anda espalhando por ai é uma infâmia. Espero que desminta tudo, senão terei de fazer justiça a meu modo, e a senhora não vai gostar... Estou lhe dizendo com todas as letras. Por onde a senhora espalhou a mentira que procure desfazê-la, imediatamente, palavra por palavra, a partir de agora. Se eu ouvir novamente essas calunias, mando queimar sua casa, sua plantação e acabar com sua vida, sua vagabunda!.
Juvenal, que já sabia do comportamento espúrio da esposa, nada disse, apenas abaixou a cabeça, num ato de covardia, ao mesmo tempo de consciência, pois já tinha conhecimento dos boatos que se espalharam pela vila, e algumas vezes advertia-a por isso. Afinal, ele sabia do passado de Sá Lorena e sabia que não era a mulher ideal por quem se apaixonara e tivera um relacionamento após uma noite de cachaçada na venda de Josias. Não era nenhuma flor que se cheirasse. Só não a largava porque padre Fausto havia lhe dito que a separação não era coisa boa, e que teria de manter a união para todo o sempre, guardando segredos e perdoando o passado. Mas, Juvenal não suportava mais viver com aquela megera que havia tido relações sexuais com quase todos os homens da vila, diziam as más línguas - até com padres da região.
- Maldita cachaça que me fez companheiro dessa desgraçada.! Senti tanta pena dela, que acabei levando-a para morar comigo no sítio, e está até hoje. Não consigo mandá-la embora, pois tenho dó. Ela não tem família, ninguém para cuidá-la. Só me resta abrigá-la. O que eu posso fazer? Dizia Juvenal aos companheiros de bebedeiras, nos dias de sábados na venda de Maninha, que tudo ouvia atentamente.
- Como Tonho tem coragem de me desapontar desse jeito, Juvenal? - disse Sá Lorena. Eu sempre gostei de Geraldina, principalmente de Nhá Marina que benzi seu corpo quando morreu, fiz varias novenas em sua casa... Eles entenderam tudo errado! Afirmava Sá Lorena, chorando.
Juvenal nada dizia. Envolvido num silêncio profundo que o remeteu ao passado - não tão distante - quando Sá Lorena fugiu de casa com Zé do bode, empregado de seu Quincas, e ainda tentaram matá-lo... Ele se recordava do momento, quando na venda de Maninha conheceu Sá Lorena. Morena bonita, de peitos fartos, quadris amplos, corpo escultural e pernas perfeitas. Bunda, nem deu prá notar, pois a cachaça o impediu de fazê-lo! Ele jamais se esqueceu disso. Também nunca a perdoou pela traição, mas, mantiveram-se unidos pela intervenção de padre Fausto com argumentos bíblicos que lhe pedia para esquecer e perdoar. Juvenal começava a desconfiar de tanta interferência.
E Juvenal, lá com seus botões, pensava, mas como não confiar num homem de Deus, que me dá cesta básica todos os meses, visita minha casa todas as semanas, principalmente quando não estou para dar apoio a Sá Lorena, nos momentos de suas crises? Duvidar já é demais!
Semanas depois, Tonho se casou com Geraldina.
Os ânimos só se acalmaram quando Tonho se aproximou para separá-las.
- O que está acontecendo aqui, Maninha? Perguntou Tonho.
- Esquece, foi, nada não. Respondeu Maninha botando a vassoura que trazia à mão num canto do balcão, e abotoando a blusa sobre o peito volumoso - Foi apenas um desabafo entre eu e essa safada!
- Como esquecer Maninha, se eu ouvi Sá Lorena falar qualquer coisa de Geraldina? Eu já sabia das fofocas dela, respondeu Tonho. Mas isso não vai ficar assim....Vou colocar tudo isso a limpo. Hoje à noite, antes de passar na casa de Geraldina, vou até o sitio do “seu” Juvenal, e ela vai ter que desmentir ou confirmar palavra por palavra, senão não me chamo Tonho.
Tonho montou no cavalão e saiu em disparada. Maninha gritava para ele não se preocupar. Mas, Tonho não quis ouvi-la e foi até à casa de Sá Lorena. Encontrou-a varrendo o chão do quintal, coberto de folhas de cajueiro e bostas de galinhas. Já era noitinha.
- Eu quero falar com a senhora agora! Disse Tonho enraivecido apeando do cavalo, sem sequer incomodar-se com a presença de Juvenal ao lado do oitão, com um latão de lixo à mão recolhendo a sujeira do quintal.
- O que você quer? Não tenho nada pra conversar com você, respondeu Sá Lorena, apreensiva.
- Eu quero apenas saber porquê a senhora fala tanto mal de Geraldina se ela nunca lhe destratou. O que a senhora anda espalhando por ai é uma infâmia. Espero que desminta tudo, senão terei de fazer justiça a meu modo, e a senhora não vai gostar... Estou lhe dizendo com todas as letras. Por onde a senhora espalhou a mentira que procure desfazê-la, imediatamente, palavra por palavra, a partir de agora. Se eu ouvir novamente essas calunias, mando queimar sua casa, sua plantação e acabar com sua vida, sua vagabunda!.
Juvenal, que já sabia do comportamento espúrio da esposa, nada disse, apenas abaixou a cabeça, num ato de covardia, ao mesmo tempo de consciência, pois já tinha conhecimento dos boatos que se espalharam pela vila, e algumas vezes advertia-a por isso. Afinal, ele sabia do passado de Sá Lorena e sabia que não era a mulher ideal por quem se apaixonara e tivera um relacionamento após uma noite de cachaçada na venda de Josias. Não era nenhuma flor que se cheirasse. Só não a largava porque padre Fausto havia lhe dito que a separação não era coisa boa, e que teria de manter a união para todo o sempre, guardando segredos e perdoando o passado. Mas, Juvenal não suportava mais viver com aquela megera que havia tido relações sexuais com quase todos os homens da vila, diziam as más línguas - até com padres da região.
- Maldita cachaça que me fez companheiro dessa desgraçada.! Senti tanta pena dela, que acabei levando-a para morar comigo no sítio, e está até hoje. Não consigo mandá-la embora, pois tenho dó. Ela não tem família, ninguém para cuidá-la. Só me resta abrigá-la. O que eu posso fazer? Dizia Juvenal aos companheiros de bebedeiras, nos dias de sábados na venda de Maninha, que tudo ouvia atentamente.
- Como Tonho tem coragem de me desapontar desse jeito, Juvenal? - disse Sá Lorena. Eu sempre gostei de Geraldina, principalmente de Nhá Marina que benzi seu corpo quando morreu, fiz varias novenas em sua casa... Eles entenderam tudo errado! Afirmava Sá Lorena, chorando.
Juvenal nada dizia. Envolvido num silêncio profundo que o remeteu ao passado - não tão distante - quando Sá Lorena fugiu de casa com Zé do bode, empregado de seu Quincas, e ainda tentaram matá-lo... Ele se recordava do momento, quando na venda de Maninha conheceu Sá Lorena. Morena bonita, de peitos fartos, quadris amplos, corpo escultural e pernas perfeitas. Bunda, nem deu prá notar, pois a cachaça o impediu de fazê-lo! Ele jamais se esqueceu disso. Também nunca a perdoou pela traição, mas, mantiveram-se unidos pela intervenção de padre Fausto com argumentos bíblicos que lhe pedia para esquecer e perdoar. Juvenal começava a desconfiar de tanta interferência.
E Juvenal, lá com seus botões, pensava, mas como não confiar num homem de Deus, que me dá cesta básica todos os meses, visita minha casa todas as semanas, principalmente quando não estou para dar apoio a Sá Lorena, nos momentos de suas crises? Duvidar já é demais!
Semanas depois, Tonho se casou com Geraldina.
José Miranda Filho, ex-Presidente e fundador do PMDB em São Caetano do Sul, Venerável Mestre da Loja Maçônica G. Mazzini (grau 33), é advogado e contador, colabora com o jornal ABC Reporter e atua como Diretor Financeiro do Conselho Gestor do Hospital Benificente São Caetano. Posta no Blog do Miranda.
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