Canto Da Irritação
há flores de cores concentradas
ondas queimam rochas com seu sal
há muitos planetas habitados
mas nada é igual a ela e eu. (Maria Bethânia)
Olha, sabe tem dias fico muito puto mesmo, quase sempre,
Deus que criou o mundo inacabado para ser acabado, aí tá assim.
E, quando saio na rua vejo tudo crendo ser acabado não sendo,
E pessoas crendo ser pessoas não sendo,
E os poetas são os únicos que conseguem quase terminá-lo, acabamento,
E de cabeça baixa para esconder meus olhos deste navio negreiro que se tornou o mundo
(neste momento neste punto letárgico da Argentina) (será toda ela dormideira?),
E me dou com um poema amassado atirado do jornal ao chão
Por alguém que lê as velhas notícias de jogos de futebol e fofocas de política,
Enquanto o poema era a notícia que mudaria sua vida pra sempre.
Sou parnasiano, me irrito. Vida de poeta é ser irritado, todo dia.
Quando me abaixei pra salvar o poema do Diário Del Rio Negro,
O vento traiçoeiro da Patagônia o jogou no meio da Calle Talero,
E os carros passaram por cima, sem dó, e os cachorros da rua ao me verem abaixado
Fizeram rebuliço. Tenho vergonha de ser gente quando vejo poema jogado no lixo.
Quem salvará o mundo senão os poetas? Quem me salvaria se não fosse eu? Um.
Santiago de Novais, nasceu em Minas, Campos Gerais. É professor de idiomas, tradutor, educador e poeta. Atualmente vive e trabalha em Nequén, Argentina.
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