Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

Poesia - Souzalopes


Nota do autor: Escrito por Marx e Engels entre dezembro de 1847 e janeiro de 1848, o Manifesto do partido comunista é o grande “eco épico” da humanidade, desde a segunda metade do distante século XIX. Estranho épico, n/ao vazado em poesia (como a Ilíada), nem em prosa de ficção (como Grandes Sertões: Veredas), nem em prosa jornalística (Como Os Sertões), mas na letra de manifesto político, didaticamente propagandeiro da revolução. E é o chamamento à revolução que dá ao Manifesto de Marx e Engels esse vibrante “eco épico” que repercute para sempre. Graciliano Ramos, diz a anedota, reclamava que o comunismo “não pegava” no Brasil por causa das traduções empoladas no Manifesto. Dizia que, em vez de “Proletários do mundo inteiro, uni-vos!”, devia ser: “Minha gente, se ajunte!”. Nesta versão anônima – composta em sextilhas de sete sílaba (redondilha maior), o metro mais utilizado na poesia popular do Nordeste ( também chamada “cordel”) - , teve-se em conta a lição de Graciliano. Apesar da quase impossibilidade de transmutação de prosa e poesia, espera o autor ter cometido simples tentativa, longe do hediondo atentado. Consultou-se basicamente a 5ª edição, da Editorial Vitória ( Rio de janeiro – GB, 1963), tradução anônima, “cotejada com a última edição em espanhol da Obras Escolhidas de Marx e Engels (Moscou, 1962) que foi traduzida da edição russa preparada pelo Instituto de Marxismo Leninismo anexo AP Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética”.

Manifesto do Partido Comunista
em cordel
Anônimo de Souza
1 – Burguesia e Proletário

O mundo inteiro se assombra
Com o tal do comunismo.
O papa e os poderes
Querem fazer exorcismo:
Dizem que é coisa do cão
Querer o socialismo.


Quem fala mal do governo
De comunista é chamado
Porque o comunismo vive
Até contra a lei do Estado,
Por que só o comunismo
Nos pode dar resultado.


Toda história deste mundo
Foi rico matando pobre,
Foi plebeu escravizado
Por toda família nobre:
Nossa vida vale menos
Que uma moeda de cobre.


Aqueles servos feudais
Se fizeram burguesia,
Navegaram nas Américas
N’África e n’Oceania,
Tomaram o lugar dos reis,
Mas mantendo a tirania.


Luta de classe não é
Uma invenção de ninguém:
É o motor da história
Movendo a vida que vem,
Do jeito que o vento sopra
Por mim, você e alguém.


O vapor e a maquinaria,
Tomaram o lugar da mão
Do homem que trabalhava
Para ganhar o seu pão.
E a máquina vale mais
Do que meu amigo João.


Daí veio a nova praga:
A conquista do mercado.
Foi assim que eles mataram
O negro escravizado;
Foi assim que construíram
Seu “mundo civilizado”.


A burguesia criou
O mercado mundial.
Isso que hoje se chama
“Civilização Global”
É cria da burguesia
Que se fez industrial.


A vida que hoje vivemos
Vem de processo bem lento.
Os reis caíram do trono
Quando soprou novo vento.
E o sol da burguesia
Tomou todo o firmamento.


Foi mesmo revolução
Que fez a nova classe.
Mas é eterna verdade
Que morre tudo que nasce –
Morrerá a burguesia
Chegando quem a ultrapasse.


Naquelas águas geladas
Onde vive o egoísmo
A burguesia afogou
Toda beleza e lirismo,
E tudo virou comércio
Medido por algarismo.


A própria religião
Nunca mais teve profeta,
Até mesmo a medicina
Só tem a moeda por meta.
Dinheiro tudo compra
E corrompe até poeta.


Adeus luares de maio,
Adeus tranças de Maria,
Nunca mais a inocência,
Nunca mais a alegria,
Adeus a vida do campo
Que hoje é só nostalgia.


Acabou-se o que era doce,
Foi-se o mundo camponês.
Desgraçou-se tudo aquilo,
Afundou-se duma vez:
Homem perante a maquina
E como gado, só rês.


A burguesia só vive
Ampliando a produção.
Assim vai determinando
Aquilo que os homens são.
As relações sociais
São contadas em cifrão.


Tudo aquilo que foi sólido
É hoje fumaça no ar.
Aquilo que foi sagrado
Hoje está no lupanar.
Por isso que precisamos
Garantir nosso lugar.


A burguesia que veio
Fez acabar as nações.
Não há espaço pros homens,
Não batem seus corações.
Tudo que existe é mercado
Guardado por legiões.


Foi assim que a burguesia
Centralizou a política.
Toda relação humana
Tornou-se fraca e raquítica,
E a nossa classe aleijada
Se arrasta paralítica.


A burguesia derruba
Qualquer país atrasado,
Até a muralha da China
Tem o alicerce abalado.
Saquear, depois vender,
E a lei do seu mercado.


Todo aquele que já fez
Ou macumba ou bruxaria
+sabe que tudo o que faz
Volta-se contra outro dia:
Assim se prepara a corda
Da forca da burguesia.


Quem leva o burguês pra forca
E o novo trabalhador,
Seja ele da mecânica
Ou do tal computador.
A burguesia bem sabe:
Servo vence o senhor.


Preço do teu trabalho
Também é mercadoria:
Seu trabalho vale merda,
Só enriquece a burguesia.
Seu filho morre de fome,
Você não tem garantia.


A oficina pequena
Onde um mestre ensinava
Seu ofício ao aprendiz
Que com ele praticava
Já perdeu toda a função:
A mão de obra é escrava.


Quem labuta por salário,
Vai lambendo sal azedo.
Não vende nem seu trabalho,
Porque este causa medo.
Vende a força do trabalho,
Que se transforma em degredo.


O produto fabricado
Vale mais que o ser humano
Que sofreu para fazê-lo
Passando por todo engano
Daquele patrão que o explora
Porque este é o seu plano.


O pobre trabalhador
Sofre na mão do patrão
E continua sofrendo
Se faz compra a prestação.
E ainda paga aluguel
Bem caro ao senhor ladrão.


Por isso o trabalhador
Ao nascer já vai pra luta.
Enfrenta a fera burguesa,
Faz azedar sua fruta.
Pra quem vive do trabalho,
Burguês é filho da puta.


No começo é um por um,
E depois somos milhões.
Trabalhador consciente
Se liberta dos patrões,
Em busca da nova ordem,
Nós formamos multidões.


Aquele que era só um
Naquela fábrica medonha,
São muitos do mesmo ramo,
O que um pensa, o outro sonha.
Assim luta quem trabalha
E não quer passar vergonha.


Toda essa massa de gente
Como cabrito na serra
Não se uniu por acaso,
Mas por estar numa guerra.
Resistindo à burguesia
Nos unimos nesta terra..


A burguesia querendo
Derrotar seus inimigos,
Já nos manda ir pra guerra
Como todos os seus perigos.
Morremos levando chumbo
E eles se tornam amigos.


Mesmo assim vamos crescendo,
Mesmo assim a classe aumenta.
Nós somos o sal da terra,
Somos feijão com pimenta,
Somos o saber da vida
E o sabor que alimenta.


Todos nós somos iguais
No salário tão mesquinho.
Vivemos a pão e água,
Mas produzimos bom vinho.
Os burgueses passarão –
Nós, um dia, passarinho’.


Nosso triunfo é pequeno
E não dura quase nada.
Mas se ainda não venci,
Vou formando um camarada,
Que continua a batalha
E vai seguindo na estrada.


Nossa união como classe,
Ou seja, como partido,
Nós mesmo prejudicamos
Quando eu brigo contigo.
Por isso, lutemos juntos,
Eu e você, meu amigo.


Aquelas brigas estúpidas
Da velha sociedade
Nos fazem tomar consciência
De toda sua maldade:
Burguês mata aristocrata,
Nós queremos igualdade.


Toda vez que um burguês
Pretende alguém derrotar,
Nos chama como soldados
E manda nos ensinar.
Nós, sabidos, aprendemos
A arte de nosso lutar.


Hoje são trabalhadores,
Alguns que foram patrões
Ou têm medo de se ver
Na miséria dos peões.
E nossa classe se educa
Vendo tais contradições.


E quando na luta de classes
Vai chegando o “agá” de hora,
A velha sociedade
Se caga, se mija e implora.
Vem puxar o nosso saco,
Porque nossa classe vigora.


A chamada classe média
Nunca fez revolução.
Tem bronca da burguesia,
Mas tem medo do patrão,
Falando em linguagem clara:
O classe média é bundão.


Aquele pobre perdido,
Que se vê feito farrapo,
Não serve para muita coisa,
Mesmo por que virou trapo.
Lambe os pés da burguesia,
Come até cocô de gato.


Por isso que não podemos
Contar com nenhum dos dois:
Nem com o pobre corrompido
Nem com aqueles que depois
Vai querendo nos mastigar
Como quem mastiga arroz.


O trabalhador que pensa
Não obedece ao patrão.
Sua mente não aceita
Essa tal situação:
Não aceitas os burgueses
Lei, moral ou religião.


Os trabalhadores podem
Fazer o mundo mudar.
Aquilo que é de um só
Para todos tem que dar.
Propriedade privada
No mundo tem que acabar.


Por isso devemos ter
Nossa mente sempre alerta.
Nós devemos destruir
A garantia tão certa
Do edifício burguês
E deixar a porta aberta.


Somente assim nós teremos
Justiça e paz pela terra.
Não como a justiça deles
Nem sua paz, que é guerra.
Teremos vida de gente
Cujo sonho não se enterra.


Não travemos mais luta
De país contra país,
Embora seja preciso
Afirmarmos a raiz,
E lutar pela nação,
Por um tempo mais feliz.


É mesmo guerra civil
No seio do nosso mundo.
Guerra suja, escondida,
Pedra que desce ao fundo.
Mas nós nascemos sem medo,
Sem medo estamos no mundo.


O servo entrou na comuna.
Mesmo sob a servidão
E o pequeno burguês
Se fez burguês, fez nação.
Mesmo sob o feudalismo
Que o mantinha na opressão.


Já o trabalhador de hoje
Tem cada vez mais miséria.
Mas o burguês que o explora
Não acha que a coisa é séria.
“O mais fraco que se quebre” –
O mais forte faz pilhéria.


Até hoje na história
Sé venceu a minoria:
Todo meio de produção
Servindo a classe vadia.
Mas só os trabalhadores
Representam a maioria.


A burguesia brincando
Dominou o mundo inteiro.
Pra ela quem só trabalha
Deve estar no cativeiro.
- Somos nós a nova classe,
Da velha somos coveiros.

(...)

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