Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 3 - Março 2009Artigo - Ruy Espinheira Filho
GEY ESPINHEIRA
O adeus final a Gey Espinheira, no dia 18 de março, deu uma clara idéia do que foi a sua vida: presentes autoridades (as que ainda cultivam algum tipo de sensibilidade), intelectuais, artistas, estudantes, jornalistas, líderes de movimentos sociais e muita gente anônima que representava, com seus rostos tristes, inconformados, desolados, a vasta população pela qual ele lutou continuamente: a humanidade dos humildes, dos marginalizados, de todos os excluídos e ofendidos pelos diversos tipos de injustiça social.
O professor Gey Espinheira marcou gerações, seus alunos e ex-alunos sempre o consideraram um mestre maior. E muito maior, pois foi ele também um mestre de vida, levando para a rua – especialmente para as áreas esquecidas, abandonadas, às quais os poderes públicos só vão para perseguir, prender, assassinar – seu conhecimento, sua indignação, sua solidariedade, sua forte palavra de denúncia.
Gey nada teve de sociólogo de departamento ou gabinete. Cumpriu também suas obrigações universitárias, fez mestrado e doutorado, publicou livros eruditos, literatura, escreveu dezenas de artigos científicos, exerceu cargos administrativos, porém ia muito além dessas tarefas, ultrapassando os muros acadêmicos e participando diretamente dos fatos de sua cidade e do mundo. Dedicava-se essencialmente ao ser humano, aos seus direitos e à sua dignidade. Foi assim desde cedo, muito jovem, estudante, enfrentando nas ruas os gorilas da ditadura, como em seus primeiros trabalhos como sociólogo.
Na sua fase do Pelourinho, quando ainda se discutia o que fazer com aquela área, defendeu firmemente o direito dos moradores originais: que não apenas se recuperassem os casarões, mas também a gente que os habitava; e que essa gente ali continuasse a morar, em melhores condições, recebendo do Estado apoio para sobreviver de seu trabalho – levando ao turismo os produtos, inúmeros, de cultura afro-baiana. Infelizmente, porém, acabou prevalecendo o poder da mediocridade, da grosseria, da mesquinhez – que expulsou os moradores e entregou o Pelourinho à burguesia e à fraude cultural. Alguma coisa se salvou, sim, mas parcamente, nada parecido com o sonho admirável de Gey Espinheira.
Os que alguma vez o procuraram sabem que jamais deixaram de receber atenção. A atenção de um sábio que só era duro com os duros, que só brigava com os fortes, que distribuía largamente sua calorosa generosidade entre todos que dele necessitassem. E esta é, sem dúvida, a palavra que mais define sua ação por toda a vida: generosidade.
Gey Espinheira morreu, mas a sua obra de mestre e lutador continua viva, estimulando os que combateram ao seu lado e suscitando novos combatentes do bom combate. Eu, particularmente, sou hoje um homem bem melhor por ter tido o privilégio de ser seu contemporâneo – e seu irmão.
O professor Gey Espinheira marcou gerações, seus alunos e ex-alunos sempre o consideraram um mestre maior. E muito maior, pois foi ele também um mestre de vida, levando para a rua – especialmente para as áreas esquecidas, abandonadas, às quais os poderes públicos só vão para perseguir, prender, assassinar – seu conhecimento, sua indignação, sua solidariedade, sua forte palavra de denúncia.
Gey nada teve de sociólogo de departamento ou gabinete. Cumpriu também suas obrigações universitárias, fez mestrado e doutorado, publicou livros eruditos, literatura, escreveu dezenas de artigos científicos, exerceu cargos administrativos, porém ia muito além dessas tarefas, ultrapassando os muros acadêmicos e participando diretamente dos fatos de sua cidade e do mundo. Dedicava-se essencialmente ao ser humano, aos seus direitos e à sua dignidade. Foi assim desde cedo, muito jovem, estudante, enfrentando nas ruas os gorilas da ditadura, como em seus primeiros trabalhos como sociólogo.
Na sua fase do Pelourinho, quando ainda se discutia o que fazer com aquela área, defendeu firmemente o direito dos moradores originais: que não apenas se recuperassem os casarões, mas também a gente que os habitava; e que essa gente ali continuasse a morar, em melhores condições, recebendo do Estado apoio para sobreviver de seu trabalho – levando ao turismo os produtos, inúmeros, de cultura afro-baiana. Infelizmente, porém, acabou prevalecendo o poder da mediocridade, da grosseria, da mesquinhez – que expulsou os moradores e entregou o Pelourinho à burguesia e à fraude cultural. Alguma coisa se salvou, sim, mas parcamente, nada parecido com o sonho admirável de Gey Espinheira.
Os que alguma vez o procuraram sabem que jamais deixaram de receber atenção. A atenção de um sábio que só era duro com os duros, que só brigava com os fortes, que distribuía largamente sua calorosa generosidade entre todos que dele necessitassem. E esta é, sem dúvida, a palavra que mais define sua ação por toda a vida: generosidade.
Gey Espinheira morreu, mas a sua obra de mestre e lutador continua viva, estimulando os que combateram ao seu lado e suscitando novos combatentes do bom combate. Eu, particularmente, sou hoje um homem bem melhor por ter tido o privilégio de ser seu contemporâneo – e seu irmão.
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