Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 4 - Abril 2009Poesia - Sousalopes
Pós-Opiário
(canção do fantasma multiplicado de Fernando Pessoa)
quando me mato me morro
no gabinete da vida
não vejo luz nem escuro
não digo já nem ainda
atrás do tempo perdido
miséria de zero por nada
contra o ouro amarelo
cega face enferrujada
me morro do que me mata
que morrer e minha prosa
verso fervendo no tacho
da fala que falo nossa
cresce o pêlo da palavra
como flor que arrebenta
na praga velha do mundo
o musgo da diferença
quando palavra é soluço
não temos plural para nós
todo morte é corda incerta
nós atamos todos nós
sem porta parede ou janela
no vago vadio do chão
maconha nenhuma acompanha
o fumo do nome não
morre o feto que morreu
na linha do próprio embigo
viva força no pescoço
calando a voz do comigo
no gerúndio dessa vida
vou só gemendo sou eu
como fantasma defunto
chorando que não morreu
do meu mim nada mais deixo
senão tornado em deserto
nenhum vento inventei
nenhum deus me teve perto
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