Ilustração de José Geraldo de Barros Martins |
Um Polêmico Escritor
Após anos e anos escrevendo, finalmente Lourival Valdomiro passou a ser reconhecido... seus três primeiros romances “Os Curupiras Tecnológicos ” (1992 - Saci Editora, 239 páginas), “Marimbas Autônomas” (1995 – Companhia Editorial Amaralina, 182 páginas), “Taquicardia Diapasônica” (2004 – Edições Pindorama – 271 páginas) não fizeram sucesso, porém “ A Possível História de Pindorama no Século XX” (2009 – Livraria Pajé Editora, 1315 páginas) foi um estouro de vendas e um sucesso de crítica... nesta obra o nosso protagonista relata o que aconteceria no Brasil durante o século retromencionado se quatro personagens da história tivessem tomado decisões diferentes...
Neste livro :
– Henri Matisse não teria desistido de fugir para o nosso país durante a Segunda Grande Guerra (ele chegou a providenciar a papelada, mas mudou de idéia na última hora)...
– Pelé teria disputado a Copa do Mundo em 1974, na Alemanha... o “escrete canarinho” teria despachado a “laranja mecânica” e realizado a mais emocionante final de todos os tempos contra os donos da casa...
– Juscelino Kubitschek teria abandonado a idéia de construir aquela USP gigante e mantido a capital na Cidade Maravilhosa, e esta iria continuar sendo a Cidade Maravilhosa...
– Ary Barroso teria aceitado o convite de Walt Disney para se tornar o diretor musical do estúdio homônimo...
Após discorrer sobre as variantes históricas caso as retromencionadas decisões tivessem sido tomadas, o nosso protagonista chegou a conclusão que o nosso país seria muito melhor, e que o coroamento deste Brasil glorioso seria a premiação de um brasileiro com o Nobel da Literatura... após uma análise macro e micro cosmogônica das perspectivas nacionais, Lourival Valdomiro demonstrou de uma maneira minuciosamente detalhada que este prêmio tão importante teria sido dado a ninguém mais ninguém menos que ele próprio... ou seja se Matisse, Pelé, Juscelino e Ary Barroso, tivessem tomado as decisões “corretas”, ele teria recebido o prêmio máximo da literatura..., logo a sua obra era mais do que suficiente para obtenção de um Nobel, e se este fato não ocorrera, não era por sua culpa...
No início os críticos acharam que aquilo era uma gozação, tanto que Lourival Valdomiro foi convidado para uma mesa-redonda sobre humor e literatura na Flip, em Paraty, porém chegando lá ele, um excelente orador, convenceu os participantes de que não estava brincando... a partir daí a crítica nacional e alguns escritores estrangeiros renomados (que participavam do evento) passaram a defender a outorga do tão famoso prêmio para o protagonista deste mini-conto... Após um curto período, a revindicação chegou na tão famosa academia sueca, sendo que logo foi criado um impasse uma vez que alguns acadêmicos julgavam que a entrega do Nobel para aquele indivíduo era totalmente absurda, uma vez que a sua obra não tinha consistência alguma, que a única coisa que prestava em sua literatura era a teoria que justificava a premiação, e que esta, se ocorresse, seria um enorme disparate... a outra parte dos membros da academia achava justamente o contrário, estes julgavam que a teoria que justificava a entrega do Nobel da Literatura para Lourival Valdomiro era uma parte da obra, na verdade a parte principal, e que os outros livros eram apenas uma preparação para o grande desenlace, e que se isolados não representavam quase nada, vistos em conjunto adquiriam significado; tais livros seriam como os jabs de esquerda do pugilista destro que prepara o potente direto de direita que se dirige certeiro para o queixo do adversário...
Pois bem... após semanas de discussão, quando já estava quase certo que o prêmio seria outorgado ao brasileiro, um velhinho acadêmico (desculpem-me pelo pleonasmo) lembrou seus colegas que se a premiação ocorresse, ela iria liquidar a teoria, pois mesmo com as escolhas “erradas” de Matisse, Pelé, Juscelino e Ary Barroso; Lourival Valdomiro seria premiado... ou seja, ele seria premiado de qualquer jeito: se Matisse viesse ou não morar em Pindorama, se Pelé disputasse o não a Copa de 74, e assim por diante... logo sua ilustre tese iria se mostrar inócua...
Eles já estavam decididos a entregar o Nobel para um escritor Indonésio (filho de pai húngaro e mãe guatemalteca) quando um outro acadêmico (ainda mais velhinho que o primeiro) lembrou que a Academia deveria ser livre e que a escolha deles teria que ser sempre independente... logo seria um absurdo ainda maior não entregar o Nobel a Lourival Valdomiro só para não contrariar a sua teoria...
Os outros velhinhos após uma certa hesitação acabaram concordando e desta forma finalmente um brasileiro, (nascido em Trabiju, perto da Araraquara) ganhou o Nobel de Literatura...
José Geraldo De Barros Martins é de São Paulo. Músico, pintor e escritor, desde 2001 publica seus desenhos e escritos no blog http://zegeraldo.free.fr.
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