Joan Maragall i Gorina foi um poeta catalão, nascido em Barcelona, a Catalonia Espanhola, em 10 de Outubro de 1860, e falecido na mesmas cidade em 20 de Dezembro de 1911. Uma vida relativamente curta e, aparentemente, pouco dramática. Embora não fosse exatamente um poeta prolífico (seus poemas tomam apenas dois volumes dos 24 da suas Obres completes de... Edició dels fills de Joan Maragalll), é considerado um dos pais da moderna poesisa catalã, altamente influenciado por autores de língua alemã, como Nietzsche, Novalis e Goethe. Grande parte de sua obra é composta por traduções e uma vasta quantidade de ensaios em catalão e espanhol. É mais conhecido por sua "Teoria da Palavra Viva", que defendia o vitalismo nietzschiano e uma escrita mais espontânea, ou mesmo imperfeita em detrimento à poesia-cerebral. Neste poema aqui apresentado - talvez um de seus poemas mais conhecidos - Margall explica os movimentos de uma vaca cega, utilizando elementos morais e líricos, cuja descrição incorpora e dá, ao mesmo tempo, um ar de tragédia e de nobreza.
La Vaca Cega - Victòria Tubau |
A Vaca Cega
Dando com a cabeça num toco ou outro de árvore,
avançando devagar em direção da água,
vai a vaca, sozinha. Ela é cega.
Num golpe certeiro de funda,
o rapaz lhe furou um olho, e no outro
lhe meteu uma venda. A vaca é cega.
Vai alimentar-se na fonte como de costume,
mas não com a firmeza de outrora,
tampouco vai acompanhada, não: vai sozinha.
Suas companheiras, pelos vales e colinas,
em prados silenciosos, ribeirinhos,
fazem soar suas campanas enquanto pastam
a grama fresca ao acaso. Ela cairia.
Dá de nariz em algo pontudo,
e recua amedrontada, mas retoma,
e baixa a cabeça até a água e bebe, tranquila.
Bebe pouco, quase sem sede, depois ergue
os enormes chifres para o céu
num movimento trágico; pestaneja o olho morto
sobre as companheiras mortas, e retorna,
orfã de luz sob o sol escaldante,
vacilante por caminhos inesquecíveis,
abanando languidamente a longa cauda.
La Vaca Cega
Topant de cap en una i altra soca,
avançant d’esma pel camí de l’aigua,
se’n ve la vaca tota sola. És cega.
D’un cop de roc llançat amb massa traça,
el vailet va buidar-li un ull, i en l’altre
se li ha posat un tel: la vaca és cega.
Ve a abeurar-se a la font com ans solia,
mes no amb el ferm posat d’altres vegades
ni amb ses companyes, no: ve tota sola.
Ses companyes, pels cingles, per les comes,
pel silenci dels prats i en la ribera,
fan dringar l’esquellot, mentres pasturen
l’herba fresca a l’atzar... Ella cauria.
Topa de morro en l’esmolada pica
i recula afrontada... Però torna,
i baixa el cap a l’aigua i beu calmosa.
Beu poc, sens gaire set. Després aixeca
al cel, enorme, l’embanyada testa
amb un gran gesto tràgic; parpelleja
damunt les mortes nines, i se’n torna
orfe de llum sota del sol que crema,
vacil·lant pels camins inoblidables,
brandant llànguidament la llarga cua.
Eduardo Miranda é músico, escritor, poeta, e tradutor. Guitarrista e fundador do grupo WEJAH, atualmente dirige o projeto musical The Virtual Em3, faz parte da banda Wellfish e é parte do Stillwater Project. Publicou Quase (Casa Pyndahýba, poesia, 1998) e as coletâneas Amigos (Casa Pyndahýba, 1994) e Contra Lamúria (Casa Pyndahýba, 1995). Editor-mor da TUDA, dá expediente em alguns blogs por aí, e nas horas vagas é Consultor de Tecnologia da Informação em Dublin.
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