Poeta e crítico, Mário Chamie era formado em Direito pela Universidade de São Paulo. Foi secretário municipal de Cultura de São Paulo e criou a Pinacoteca Municipal de São Paulo, o Museu da Cidade de São Paulo e o Centro Cultural São Paulo. Mário Chamie é um nome muito importante na história das vanguardas surgidas no final da década de 1950. Como dissidente do concretismo, instaurou o "poema-práxis" com seu livro Lavra Lavra, de 1962. Como o nome sugere, a idéia central da poesia práxis era construir poemas com base na prática da vida. Mário Chamie, o principal poeta e teórico do grupo. Os poemas práxis resultavam de um levantamento de palavras dentro do campo semântico do tema escolhido para o poema ou livro.
Candido Portinari, Criança Morta, 1944 - Óleo s/ tela, 176 x 190 cm. |
Plantio
Cava,
então descansa.
Enxada; fio de corte corre o braço
de cima
e marca: mês, mês de sonda.
Cova.
Joga,
então não pensa.
Semente; grão de poda larga a palma
de lado
e seca; rês, rês de malha.
Cava.
Calca
e não relembra.
Demência; mão de louco planta o vau
de perto
e talha: três, três de paus.
Cova.
Molha
e não dispensa.
Adubo; pó de esterco mancha o rego
de longo
e forma: nó, nó de resmo.
Joga.
Troca,
então condena.
Contrato; quê de paga perde o ganho
de hora
e troça: mais, mais de ano.
Calca.
Cova:
e não se espanta.
Plantio; fé e safra sofre o homem
de morte
e morre: rês, rés de fome
cava.
[ in Lavra-Lavra ]
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