Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

Conto - José Miranda Filho

Cangaceiro, 1955 - Cândido Portinari

Vim da terra vermelha e do cafezal.
As almas penadas, os brejos e as matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu auto-retrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo.
Cândido Portinari

O Retrato do Sertão - 20 (Parte Final)

Padre Fausto foi informado da prisão de Catingueiro e Farinheira na manhã seguinte pelo soldado Esperidião que costumava assistir diariamente as missas das sete horas, antes de dirigir-se a Delegacia. O padre não conteve a reação e o temor de sabê-los detidos.

Esperidião, perplexo com o comportamento do padre, perguntou-lhe:

- Por que o receio pela prisão de dois vagabundos, padre?

Com o olhar fulminante de raiva, virou-se para Esperidião, mas nada respondeu!

Padre Fausto tinha razões suficientes para se preocupar. Temia que eles contassem ao Delegado que se encontraram no local do crime. Conhecia-os muito bem e sabia que não eram pessoas confiáveis. Sua reputação social e religiosa estava em perigo! Precisava vê-los imediatamente, antes que dessem qualquer depoimento. Atrelou a carroça, chamou Chiquinho para acompanhá-lo, e se mandou para a delegacia.

Não houve tempo! O Delegado já os tinha inquiridos. Pelo depoimento minucioso e contundente de Catingueiro, o Delegado, não obstante sua indicação ao cargo ter tido o aval de padre Fausto, mandou intimá-lo para comparecer à delegacia e se inteirar do teor das declarações. No momento em que o escrivão redigia a intimação, o padre chegou. Conversou com o Delegado, e solicitou-lhe permissão para se encontrar com os depoentes. O delegado lhe disse que já havia antecipado o depoimento deles, e que se o padre quisesse ter ciência dos que eles disseram, com muito prazer o atenderia, só não podia alterar nada. Já estava tudo registrado, mas que ouviria de bom grado o que ele tinha a lhe dizer.

- Se necessário padre, mesmo sabendo doloroso e constrangedor para o senhor, farei a acareação das testemunhas. Para preservação da amizade e respeito que lhe devoto, e com referência à inclusão imparcial de minha conduta como policial, solicitei a presença de seu advogado, bem como do Promotor Público, porque as evidências da autoria do crime levam à sua pessoa. Farei isso pelo respeito e consideração que lhe devo, e pela probidade e honestidade de homem digno que o senhor sempre foi, e certamente será!

Líder espiritual da comunidade religiosa da cidade, político influente e muito respeitado, tinha como único objetivo lutar pelo sertanejo menos agraciado da sorte, tal como difundir a palavra de Deus através do Evangelho. Não merecia estar envolvido neste trágico acontecimento.

O delegado não acreditava na participação do padre no crime. Incrédulo, temia pelo desfecho final das investigações, que com certeza o apontariam como co-autor.

- Só não se dá jeito pra morte. Essa é iminente e imensurável! Pensava com seus botões! No entanto, tinha medo de represálias populares e da imprensa e arrochada de políticos, que poderiam lhe transferir se acusasse formalmente padre Fausto. O melhor seria fazer a acareação entre os três envolvidos na presença do Promotor e do advogado. Lavaria as mãos sobre qualquer decisão que tomassem. O doutor Promotor e o advogado confirmariam sua isenção como policial e amigo do padre. Gestos, olhares, atitudes e movimentos faciais, a psicastenia dos acareados, frente a frente, tudo foi minimamente detalhado, e seriam peças fundamentais e importantíssimas a sustentar sua imparcialidade no caso. Ninguém jamais poria sua reputação em dúvida. No final, juntamente com outros líderes políticos locais, certamente haveriam de encontrar uma solução menos grave e dolorosa.

Padre Fausto nervoso pelo depoimento de Catingueiro, num ato desleal e covarde, partiu pra cima dele com o intuito de agredi-lo, cuja ação não se consumou, devido a intervenção de seu advogado, que a todo instante lhe pedia calma.

- É mentira desse vagabundo, desgraçado, cachacista e desordeiro. Ele nunca apareceu na paróquia para assistir uma missa, se confessar, comungar ou pegar uma cesta de alimentos, porque vivia sempre bêbado e falando besteiras pelas ruas. Tentei salvá-lo, Delegado, mas o infeliz desviou-se da dignidade, exortou a bebida, fugiu da virtude e da verdade, e até da própria vida. Preferiu enveredar-se pelo caminho do mal. Só desejei fazer-lhe o bem, mas o desgraçado investiu-se contra mim, não sei o porquê, e começou a espalhar boatos maldosos pela cidade a meu respeito. Ofereci-lhe emprego sim, e moradia, contudo o infeliz não aceitou. Preferiu conspurcar meu nome pelas redondezas, como se isso o inocentasse do crime nefasto que cometeu. Foi ele quem matou Sá Lorena. Eu tenho como provar!

- Calma, padre, pedia o delegado toda vez que Catingueiro o acusava.

- É uma infâmia desse maluco desastrado!

O delegado impaciente com o padre, que a todo instante se levantava da cadeira e investia contra Catingueiro, gritou:

- Padre, sente-se e controle-se! Se o senhor continuar com esse ímpeto violento, sou obrigado a prendê-lo por agressão e desacato. Atitude que temo fazer, e não desejo fazê-la. Concordei com a presença de seu advogado para isentar-me de eventuais omissões no depoimento ou facilitações parciais que poderiam ser suscitadas pelo doutor Promotor Público aqui presente. Calma! Por enquanto são apenas insinuações maldosas que o depoente faz contra o senhor. É meu dever ouvir e registrar tudo o que ele diz. O promotor é que irá decidir pela aceitação do inquérito policial e encaminhá-lo ao Juiz, a quem caberá o direito de acatar ou não a denúncia e pedir a abertura do processo penal.

Catingueiro estava tranquilo e consciente no que afirmava. No depoimento que prestou afirmou e confirmou com todos os detalhes a noite em que se encontrou com o padre no local do crime. Confessou que ele e Farinheira estavam vindo do bailão do Zacarias, quando viram padre Fausto no local do crime dirigindo a carroça, e com um fuzil no ombro. O padre perguntou-nos o que estávamos fazendo àquela hora, naquele lugar escuro. Respondi-lhe que estávamos apenas descansando e curando-nos da ressaca da bebedeira que tomamos.

- Não estávamos bêbados, seu Delegado. Apenas tínhamos tomado umas cachaças. Tanto é que lhe pedimos a benção e ele nos abençoou pedindo-nos para que saíssemos daquele lugar. Paramos ali debaixo do juazeiro pra fazer xixi e esperar o dia amanhecer, como sempre fazíamos quando íamos ao baile na casa do Zacarias. Aí ele disse que não era pra gente dormir ali, que aquele lugar era muito perigoso, e que naquela encruzilhada já havia acontecido vários crimes... Ofereceu-nos a carroça, se quiséssemos voltar para Laranjeiras, que não iria precisar dela, apenas iria conceder a extrema-unção de um paroquiano, e dormiria por lá. Desconfiamos de sua preocupação! Se o lugar era perigoso para nós, para ele não era? Sempre passamos a noite ali! Nunca nos aconteceu nada naquele lugar! Depois das bebedeiras era ali que esperávamos o dia amanhecer! Por que ele estava ali, e àquela hora? Ademais, ele nunca saia sozinho! Pra qualquer lugar que fosse ia sempre acompanhado de Chiquinho! Por que naquele momento estava só? Afirmava Catingueiro, consciente de seu depoimento.

- De tanta insistência doutor, aceitamos o conselho dele e fingimos que fomos embora. Logo adiante porém, sem que ele nos visse agachamos atrás de uma moita de aroeira e ficamos observando seus movimentos.

- Estávamos curiosos e amedrontados!

- Será que ele vai fazer algum despacho... trabalho sujo, uma macumba naquela encruzilhada? Perguntou-me Farinheira.

- Não sei! Estou achando estranho tudo isso!

- E depois... o que aconteceu? Perguntou o delegado, abismado!

- Ele desceu da carroça, acocorou-se atrás do juazeiro, engatilhou o fuzil e se posicionou como se estivesse esperando alguém. Cada minuto que passava a gente ficava mais aflito.

- Que diabos o padre está querendo fazer? Perguntei a Farinheira, que tremia, rezava e fazia o sinal da cruz..

- Só Deus sabe, respondeu-me gaguejando.

- Ai seu doutor, ouvimos o tropel de cavalo. Apareceu na encruzilhada uma carroça com duas pessoas. Por causa da escuridão não dava pra identificar os passageiros, mas pela vestimenta branca que uma delas usava só podia ser uma mulher. Desceu da carroça e se abaixou pra mijar ao pé do juazeiro, enquanto a outra pessoa ficou esperando sentada na carroça, segurando as rédeas do cavalo e com um objeto que parecia uma arma, nas mãos. Foi nesse momento que ouvimos três tiros. Vimos quando a mulher caiu... e vimos quando o padre subiu na carroça e fugiu em disparada. Corremos para socorrer... reconhecemos a mulher como Sá Lorena. Juvenal ficou em cima da carroça como se nada tivesse acontecido. Farinheira não acreditava que o padre tivesse atirado nela. De tanto medo, blasfemava:

- O Diabo que me carregue, se o que vi não for verdade!

- Farinheira, não vamos contar nada pra ninguém o que acabamos de ver nessa noite!

- Quando nos aproximamos de Sá Lorena para ajudá-la a levantar-se da poça de sangue, Juvenal nervoso, jogou a arma entre os sacos de milho que trazia na carroça. Pediu-nos para que fôssemos embora e não contássemos nada pra ninguém. Perguntou-nos se tínhamos visto quem atirou. Farinheira respondeu que só tinha visto o padre no local, mais ninguém. Juvenal xingou-nos e nos ameaçou de morte, afirmando que a arma disparou acidentalmente quando ele ajudou Sá Lorena descer da carroça. Mas, nós não vimos ele ajudá-la descer da carroça. A arma estava na carroça ao lado de dois sacos de milho. Como poderia ter disparado?

- Juvenal estava muito agitado e nervoso e gritava pra gente ir embora... que estávamos bêbados e dificultando sua vida. Pegou a mulher ainda com vida, botou-a na carroça e foi embora nos amaldiçoando e mandando-nos para os infernos, e que iria falar para padre Fausto nos excomungar!

- Farinheira sentia medo! Ficamos ali parados sem saber o que fazer. Quando o dia amanheceu verificamos o local em que Sá Lorena caiu. Tinha uma enorme poça de sangue já seca, misturada com mijo. Saímos do local rapidamente jurando não dizer nada a ninguém sobre o que vimos. Na manhã seguinte, antes do meio-dia, depois que a vizinhança soube da morte de Sá Lorena, recebemos a visita de padre Fausto. Farinheira ainda dormia. Acordei-o. Desconfiamos de sua presença. Nunca nos deu qualquer valor. Tremendo e nervoso, nos perguntou se havíamos visto quem atirou em Sá Lorena. Farinheira lhe respondeu que no local do crime só haviam cinco pessoas. Impaciente, ele nos perguntou se éramos capazes de identificar o assassino.

- No local do crime, só estávamos nós e o senhor, padre! Não havia mais ninguém. Juvenal disse que foi um acidente quando pegou a arma e esta disparou. Se não foi ele, só pode ter sido o senhor!

- Aí seu Delegado, o padre se transformou no demônio. Aquela figura angelical que todos conheciam, instantaneamente se transformou no Satanás. Nos ameaçou de excomunhão... de mandar algum capanga nos matar, e outras blasfêmias, caso dissessemos que o tínhamos visto no local do crime. Afirmou que não tinha nada com a morte de Sá Lorena... que apenas passava por ali porque ia dar a extrema-unção a um moribundo nas proximidades. Mas Farinheira num momento corajoso, disse:

- Padre, o senhor estava com um fuzil na mão... Quem atirou em Sá Lorena então? Fomos nós? É isso que o senhor quer dizer?

- Vagabundos, cachacistas, como ousam duvidar da palavra de um mensageiro de Deus?

- O padre ficou nervoso, mandou-nos aos infernos, e à puta que nos pariu. Nunca ouvimos tamanha blasfêmia da boca de um sacerdote, principalmente dele que é tido como um religioso respeitado e admirado pelo povo de Laranjeiras. Depois de algum tempo em silêncio, se acalmou. Nos chamou para o terreiro e nos ofereceu dois contos de reis para que ficássemos calados e não comentássemos a ninguém que o tínhamos visto no local do crime. Pediu-nos para afirmar, caso fossemos intimados pela polícia, que tínhamos ouvido Tonho dizer “Isso é para você aprender a se calar e não blasfemar contra a vida alheia, sua desgraçada”. Ofereceu-nos emprego em Arapiraca e uma casa para morar, se fossemos embora de Poços dos Anjos.

O padre se aperreava e perdia cada vez mais as estribeiras, toda vez que Catingueiro o acusava.

Diante de contundente depoimento e preciosas afirmações o delegado ainda duvidava quanto ao procedimento a adotar para a conclusão do inquérito policial. As provas contudo, eram evidentes, mas a coragem de incriminar o padre era o problema.

- Como indiciar um homem digno, um político respeitado e admirado na cidade? Tenho de encontrar uma solução para a conclusão desse maldito inquérito que atormenta minha vida pessoal e põe em dúvida minha carreira policial! Preocupava-se o delegado, temeroso com o desfecho que daria às investigações.

A multidão enfurecida se aglomerava em torno da delegacia pedindo justiça e providências para a prisão do assassino. As carolas, contumazes frequentadoras da igreja, já não tinham dúvida da participação do padre no assassinato de Sá Lorena. Relembravam boatos antigos quando ouviam falar dos encontros deles às escondidas na casa paroquial. O povo pedia justiça. Fosse quem fosse o assassino.

- Será que há justiça para incriminar ricos e poderosos? Gritavam algumas pessoas inconformadas!

Padre Fausto, na sala do Delegado acompanhado pelo Promotor Público e por seu advogado, ouvia a multidão e sentia medo. Já não esboçava qualquer reação às afirmações de Catingueiro. Seu advogado já havia combinado com o Delegado um jeito humano e menos doloroso para o desfecho. O Promotor contudo, não aceitava esse acordo.

- A lei não pode subestimar os pobres e favorecer os ricos, pelo menos enquanto eu for promotor desta Comarca. Dizia o jovem defensor público.

- Não vejo a hora de requerer minha aposentadoria e sair deste lugar amaldiçoado, Getulio. Dizia o delegado ao escrivão, perturbado com os acontecimentos.

Sentado na velha cadeira de couro com as pernas esticadas sobre um banquinho de madeira, ele imaginava o que transcrever no inquérito para descaracterizar a figura de crime passional e amenizar a vida do padre, conforme combinado com o advogado. Aduziria que Sá Lorena fôra assassinada por ter falado que o padre gostava de tomar umas cachaças nas noites livres, e isso tenha lhe trazido dissabores? Registraria que pela vida pregressa de ambos, quando no passado tiveram um relacionamento amoroso, enquanto seminarista? Ou movido pelo ciúme doentio que ela sentia de dona Elvira? Poderia até incriminar Tonho como o causador dessa tragédia para se ver livre das fofocas que Sá Lorena lhe atribuía, conforme o depoimento de Catingueiro? Ou mesmo, o próprio marido que acidentalmente ou não disparou a arma, como disse - já que não suportava mais ouvir comentários desairosos sobre à idoneidade de sua mulher?

Essas ações ainda pululavam na idéia dúbia do delegado para não culpar o padre por um ato nefasto desses, não obstante as provas testemunhais obtidas indicarem-no como o verdadeiro assassino. Nem por isso desejava incriminá-lo. Essas imputações causavam-lhe medo! A falta de coragem e a repercussão do caso que escandalizaria a sociedade local também! Os depoimentos irrefutáveis prestados por Catingueiro e Farinheira tampouco poderiam ser rejeitados. Eram provas incontestáveis. A acareação que fizera entre os envolvidos não lhe deixava outra alternativa. As provas eram claras e conduziam ao autor do crime. Ao mesmo tempo, as preocupações, aflições e falta de firmeza para incriminar alguém tão importante na sociedade local lhe deprimia! Inquietava-se. Ascendia em sua consciência o desejo de requerer a aposentadoria e sair daquela cidade o mais depressa possível e viver distante dali num lugar isolado, longe de tudo e de todos. A certeza do assassino era absoluta. Denunciar um sacerdote, líder da igreja católica, homem forte e importante na política local, consagrado como símbolo sacerdotal atuante, homenageado pelos poderes Executivos e Legislativos do Estado como cidadão Honorário, condecorado pelo padre Cícero com a Medalha de Defensor Emérito dos Direitos e Liberdade do povo Sertanejo, esse era o problema!

- Oh, meu Deus! Comprimia-se o Delegado deprimido, revirando dezenas de folhas de papéis manuscritas sobre mesa.

Levantou-se da cadeira desgastada pelo uso constante, pegou o cachimbo, caprichosamente confeccionado com ornatos de prata do mesmo artesão que fabricava os adornos de Lampião – presente do próprio padre Fausto, quando assumiu a delegacia local - pôs o pouco do tabaco que restava na gaveta da mesa, acendeu-o, colocou-o na boca, e saiu para tomar o ar fresco da manhã trazido pelo vento que soprava do leste prenunciando chuvas. O inverno se aproximava. Baforou o cachimbo durante vezes seguidas, expeliu sôfrega e ansiosamente a fumaça da boca, e disse:

- Seja lá o que Deus quiser!

- Getúlio, venha cá meu filho! Finalize esta merda e mande imediatamente ao doutor Promotor Público de Laranjeiras para sua apreciação e conclusões. Ele haverá de decidir se aceita ou não o que está no inquérito. Se aceitar, encaminhará ao Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Comarca, a quem caberá abrir ou não o processo penal. Enquadre padre Fausto como incurso no artigo 158 do Código Penal, por oferecimento de benesses a testemunhas para se calarem e distorcerem os fatos, e incrimine Catingueiro e Farinheira como incursos no artigo 138, parágrafo 1o. do Código Penal por crime de calúnia. Recolha os dois imediatamente ao xadrez. Quanto a Juvenal, mantenha-o preso. Ainda tenho algumas dúvidas a esclarecer sobre sua participação no caso.

Getúlio pasmo, não acreditou! Mas, Doutor...

- Não lhe pedi opinião. Faça o que lhe mando. Obedeça!

Nunca o delegado fora tão acintoso com ele, com quem trabalhava havia duas décadas. Mas Getúlio era funcionário dedicado e estava prestes a se aposentar. Jamais iria se insubordinar, fato que poderia lhe trazer uma advertência ou mesmo transferência, coisa que não desejava no momento. Poderia ainda ser processado por desobediência. Cumpriu a determinação.

Finalmente, estava concluído o inquérito do assassinato de Sá Lorena, que já se arrastava por nove meses. Duas semanas depois da prisão de Catingueiro e Farinheira como cúmplices do assassinato de Sá Lorena, o Delegado foi aposentado compulsoriamente. Padre Fausto foi afastado de suas funções sacerdotais e removido para a Paróquia de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, enquanto Juvenal foi encontrado morto, pendurado na grade da cela enforcado com retalhos de pano envoltos pelo pescoço. Ao lado do corpo encontraram uma carta escrita do próprio punho. “ Peço perdão aos amigos, a Tonho, seu Quincas, dona Elvira, e a todos àqueles que tiveram discórdias com Sá Lorena. Fui eu mesmo o assassino de Sá Lorena, por ela estar grávida de padre Fausto, razão que jamais aceitei. Tal procedimento espúrio só me traria desgraça por ter uma vida simples, porém honesta. O padre também temia o escândalo dessa gravidez, que certamente acabaria com sua vida religiosa e política. Combinamos assassiná-la. Ele ma daria algum dinheiro para que eu fugisse. Os tiros seriam disparados por ele, mas no momento da consumação devido a presença de dois bêbados, eu mesmo resolvi fazê-lo. Queria que o padre apenas me protegesse e me livrasse do crime.

Catingueiro e Farinheira, julgados à revelia, sem defensor público nomeado, foram levados à júri popular e condenados a dez anos de reclusão cada um.

ASSIM VIVEU O SERTÃO NORDESTINO ENVOLTO EM MISTÉRIOS E INJUSTIÇAS!

Nota do autor: Os fatos aqui narrados não têm o objetivo de retratar a saga de Lampião e seu bando. Não foi esse o sentido do autor. Alguns acontecimentos e personagens entretanto, são meras ficções criadas para justificar e enaltecer a figura do sertanejo que luta pela sua sobrevivência econômica, enquanto ainda perece da figura protetora de coronéis corruptos e políticos interesseiros.

1 comment:

Anonymous said...

O autor teve apenas o desgosto de narrar as agrurias do povo nordestino à epoca. Sao fatos reais a configuração proletária entre "quem pode manda, e quem não pode obedece". Essa era a politica à época dessa narrativa.

Autores

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