Depois de Manuel Bandeira, sem dúvida, o melhor
Carlos Drummond de Andrade é um grande poeta, inclusive porque, quando foi preciso, soube reconhecer que Manuel Bandeira lhe era superior. Alguns objetarão dizendo que o itabirano afirma isso no espaço ambíguo de um poema, lugar onde se anulam a verdade e a mentira, e que, portanto, não se pode levá-lo a sério nesse gesto de desprendimento em que concede o primeiro posto ao poeta recifense. Mas como, do meu ponto de vista, a insuficiência do mundo exige a colaboração da arte para torná-lo plausível e tolerável, sou obrigado a discordar e insistir que Drummond não dissimulava, pois, neste momento moderno/pós-moderno, onde tudo se volta equívoco, a começar pala linguagem referencial (que serve de legenda ao mundo), me parece que o poema, paradoxalmente, acaba por se constituir em um discurso forte o bastante para justificar nossas mais caras ilusões.
Por outro lado, se me engano, isto é, se o que afirma o poema de Drummond (no tocante a superioridade de Bandeira) não pode ser levado a sério, então o crédito que se dá aos seus assuntos elevados e graves: o vasto mundo, o medo, a náusea, a memória, a pedra prosaica e dantesca, a bomba, enfim, todos os seus movimentos em direção à tematização do fracasso e da beleza do “humano” não merecem, por conseguinte, nossa devota confiança.
Talvez seja esse o problema: lê-se mais os assuntos e os temas do que o poema drummondiano. A verdade é essa: num poema bom os acordes vão para um lado e as palavras para o outro. Um poema bom se plasma sobre uma consciência de linguagem que não teme a disjunção entre nome e coisa, aliás, essa coincidência não existe. Algo similar acontece com o cinema, a maioria se interessa pela fábula (a história) e se mostra desatenta à narrativa (como se conta a história), à estética fílmica (planos, angulações, movimentos de câmera), ou seja, não se dá atenção àquilo que singulariza tal linguagem. Prefiro ser um intérprete (em sentido musical) da música de Drummond a me solidarizar com os seus ombros fatigados.
A suposta humildade de Bandeira também não é a música de Bandeira. A “humildade” é a fábula. Joaquim Pedro de Andrade em seu curta-metragem O poeta do Castelo, filmou muito bem esse personagem da poesia de Manuel Bandeira. Sua música não se esgota nessa virtude-clichê.
Muito bem, mas eu estou aqui para falar de Carlos Drummond de Andrade. E acho que já falei o suficiente. Grande Drummond, o segundo melhor poeta de nós todos.
Carlos Drummond de Andrade por Cândido Portinari |
Por outro lado, se me engano, isto é, se o que afirma o poema de Drummond (no tocante a superioridade de Bandeira) não pode ser levado a sério, então o crédito que se dá aos seus assuntos elevados e graves: o vasto mundo, o medo, a náusea, a memória, a pedra prosaica e dantesca, a bomba, enfim, todos os seus movimentos em direção à tematização do fracasso e da beleza do “humano” não merecem, por conseguinte, nossa devota confiança.
Manuel Bandeira por Cândido Portinari |
A suposta humildade de Bandeira também não é a música de Bandeira. A “humildade” é a fábula. Joaquim Pedro de Andrade em seu curta-metragem O poeta do Castelo, filmou muito bem esse personagem da poesia de Manuel Bandeira. Sua música não se esgota nessa virtude-clichê.
Muito bem, mas eu estou aqui para falar de Carlos Drummond de Andrade. E acho que já falei o suficiente. Grande Drummond, o segundo melhor poeta de nós todos.
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