Cheiro De Humanidade
Homo sum: humani nihil a me alienum puto: “Sou homem, não julgo alheio a mim nada do que é humano.” Este célebre verso de Terêncio poderia figurar como epígrafe de toda a obra de Roniwalter Jatobá, autor sempre voltado para as questões da condição humana, sobretudo em sua tragédia e precariedade. Cheiro de chocolate, onde encontramos textos de temática variada, está igualmente impregnado dessa sensibilidade, mesmo nas páginas e reflexões de maior lirismo.
Mineiro de Campanário, tendo sido criado na Bahia, em Campo Formoso, Roniwalter migrou para São Paulo ainda muito jovem, em busca de melhores oportunidades e já com o objetivo ─ como revela com firmeza em um dos contos que falam da infância ─ de se tornar escritor. Enfrentou inúmeros ofícios, do trabalho braçal ao jornalismo, e realizou o sonho maior: fez-se escritor. E escritor que pôs em sua obra a vida atribulada que viveu e testemunhou, às vezes com crueza e indignação, mas sem esquecer a ternura e a esperança.
Neste Cheiro de chocolate o leitor encontrará lugares e momentos de um mundo que ele reconhecerá bem, embora tenha diferentes experiências, porque o autor transmite com rara mestria o que, afinal, mutatis mutandis, tem a ver com a existência de todos nós: a luta pela sobrevivência, o amor, o desamor, a alegria das conquistas, as dores das perdas, a indiferença, a solidariedade, a solidão, a força de sempre ir adiante.
Um professor ou crítico diria ser este um livro de contos e crônicas. Eu, que não gosto muito de tais classificações, prefiro considerá-lo um volume de histórias, algumas das quais ─ como em “Aves de arribação” ─ mais se assemelhando a romances sucintos, tal a amplitude e densidade de seu conteúdo.
Aliás, densidade e amplitude são características presentes em todos os textos, cuja fabulação contém, além de destinos migrantes, relatos de amor, lembranças da infância, momentos líricos (como no texto-título e em “A flor do meu bairro”), dramas de gente simples na metrópole (várias vezes, como em “Desencontros”, “Caminhos nublados”, “O soldado Arlindo”, “A filha do príncipe”), ilusão, desilusão, paixões infantis (“Holly, I love you”) e maduras (“Depois da tempestade”). Enfim, vida em toda a sua intensidade.
É por isso, porque faz uma literatura intensa de vida, que Roniwalter Jatobá se afirma como um dos principais escritores brasileiros contemporâneos. O que ele escreve é essencialmente literatura, ou seja, aquilo que, segundo Sartre, o mundo poderia muito bem dispensar, mas que melhor faria se dispensasse o próprio homem. De fato, nunca houve um tempo de nossa espécie sem literatura, a qual sem dúvida começou com os sentimentos e pensamentos mais primitivos, chegou à palavra e, finalmente, à escrita. Ou seja: está intimamente ligada à nossa natureza.
A literatura nasce da vida e ilumina a vida. É o que sentimos em livros como Cheiro de chocolate. Podemos visitar suas páginas como crianças, jovens, adultos, velhos: elas falam a todos nós. Elas nos pertencem como pertencemos a elas. Eu diria que a arte de Roniwalter Jatobá se mostra por inteiro neste volume aparentemente despretensioso e que é, na verdade, tecido com as fontes profundas que trazem à superfície fria do cotidiano o que nos faz mais dignos da vida e que se chama calor humano.
Apresentação de Ruy Espinheira Filho
Homo sum: humani nihil a me alienum puto: “Sou homem, não julgo alheio a mim nada do que é humano.” Este célebre verso de Terêncio poderia figurar como epígrafe de toda a obra de Roniwalter Jatobá, autor sempre voltado para as questões da condição humana, sobretudo em sua tragédia e precariedade. Cheiro de chocolate, onde encontramos textos de temática variada, está igualmente impregnado dessa sensibilidade, mesmo nas páginas e reflexões de maior lirismo.
Mineiro de Campanário, tendo sido criado na Bahia, em Campo Formoso, Roniwalter migrou para São Paulo ainda muito jovem, em busca de melhores oportunidades e já com o objetivo ─ como revela com firmeza em um dos contos que falam da infância ─ de se tornar escritor. Enfrentou inúmeros ofícios, do trabalho braçal ao jornalismo, e realizou o sonho maior: fez-se escritor. E escritor que pôs em sua obra a vida atribulada que viveu e testemunhou, às vezes com crueza e indignação, mas sem esquecer a ternura e a esperança.
Neste Cheiro de chocolate o leitor encontrará lugares e momentos de um mundo que ele reconhecerá bem, embora tenha diferentes experiências, porque o autor transmite com rara mestria o que, afinal, mutatis mutandis, tem a ver com a existência de todos nós: a luta pela sobrevivência, o amor, o desamor, a alegria das conquistas, as dores das perdas, a indiferença, a solidariedade, a solidão, a força de sempre ir adiante.
Um professor ou crítico diria ser este um livro de contos e crônicas. Eu, que não gosto muito de tais classificações, prefiro considerá-lo um volume de histórias, algumas das quais ─ como em “Aves de arribação” ─ mais se assemelhando a romances sucintos, tal a amplitude e densidade de seu conteúdo.
Aliás, densidade e amplitude são características presentes em todos os textos, cuja fabulação contém, além de destinos migrantes, relatos de amor, lembranças da infância, momentos líricos (como no texto-título e em “A flor do meu bairro”), dramas de gente simples na metrópole (várias vezes, como em “Desencontros”, “Caminhos nublados”, “O soldado Arlindo”, “A filha do príncipe”), ilusão, desilusão, paixões infantis (“Holly, I love you”) e maduras (“Depois da tempestade”). Enfim, vida em toda a sua intensidade.
É por isso, porque faz uma literatura intensa de vida, que Roniwalter Jatobá se afirma como um dos principais escritores brasileiros contemporâneos. O que ele escreve é essencialmente literatura, ou seja, aquilo que, segundo Sartre, o mundo poderia muito bem dispensar, mas que melhor faria se dispensasse o próprio homem. De fato, nunca houve um tempo de nossa espécie sem literatura, a qual sem dúvida começou com os sentimentos e pensamentos mais primitivos, chegou à palavra e, finalmente, à escrita. Ou seja: está intimamente ligada à nossa natureza.
A literatura nasce da vida e ilumina a vida. É o que sentimos em livros como Cheiro de chocolate. Podemos visitar suas páginas como crianças, jovens, adultos, velhos: elas falam a todos nós. Elas nos pertencem como pertencemos a elas. Eu diria que a arte de Roniwalter Jatobá se mostra por inteiro neste volume aparentemente despretensioso e que é, na verdade, tecido com as fontes profundas que trazem à superfície fria do cotidiano o que nos faz mais dignos da vida e que se chama calor humano.
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