Não aprendi a soletrar,
Nem tão pouco a pensar.
Nunca escrevi redondinho
Ou li sem gaguejar.
Ouvi sempre um “ Não”,
Explodir os meus tímpanos,
Comprimir a minha cabeça,
Delimitar o meu sorriso.
- Com licença! Posso ir ao banheiro?
- Então, por favor, um pinico ligeiro.
Senti as pancadas de correção
Afagarem-me o âmago,
Quando esquecia o dever,
Trocava o “c” por “ç”
Ou não conseguia entender...
Nada era um simples engano,
Na velha escola, com a velha senhora
E a sua arcaica cartilha.
- Presente! Estou aqui sim.
- Apenas uma nota no boletim.
Recebi incentivos à frustração,
Decorar o que não se aprende
E a equacionar a inspiração.
Num ambiente ridículo circunspecto
Condicionei-me ao desestímulo,
Onde o lúdico timidamente perece,
O sarcasmo é a violência inocente...
Entre a indiferença do corpo docente.
- Digeri a minha ignorância em segredo.
- No quadro negro descobri o medo.
Dorival Fontana é paulista, poeta e escritor. Atualmente vive em Caconde, Minas Gerais.
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