Ilustração de José Geraldo de Barros Martins
O Prédio
Desde pequeno Joelmo Vespasiano era apaixonado pelo plastomodelismo, ou seja adorava montar aqueles aviões, navios, tanques de guerra, carros, todos de plástico... depois pintava-os cuidadosamente, colava os decalques e os exibianas prateleiras do alpendre no quintal da casa de seus pais em Moema... Quando foi estudar arquitetura sua habilidade com aviõezinhos de montar fez com que fizesse as mais bonitas maquetes da faculdade... passou a ser requisitado para fazer maquetes para os escritórios dos professores e após a formatura abriu uma micro-empresa especializada no assunto... em pouco tempo a micro-empresa prosperou e ele passou a atender as grandes construtoras.
Em uma tarde morna de terça-feira o nosso protagonista recebeu a notícia que asua tia-avó Lalitas havia falecido... imediatamente ele se lembrou dos almoços na infância na casa da tia querida no bairro da Vila Mariana, onde costumava brincar com seus primos e primas no jardim junto ao tamarindeiro naquelas tardes quentes e perfumadas em que o sol entorpecia os sentidos com a suas radiações voluptosas... No velório começaram os boatos: a casa seria vendida...
Passados alguns meses ele recebeu a encomenda de uma construtora para executar uma maquete de um grande lançamento que iria ocorrer justamente na rua em que a sua tia Lalitas morava... ficou desconfiado e foi até o local averiguar: o prédio seria construído justamente onde era a casa de sua tia-avó e o pior: o tamarindeiro fora cortado!!!
Joelmo então começou a caminhar a esmo em meio a aquele bairro onde as residências estavam sendo esmagadas por aquele monte de prédios horrorosos: prédios chanfrados, prédios mediterrâneos, prédios revestidos com pastilhas, e o pior: prédios naquele estilo que Darcy Ribeiro denominou “Geisel-Funerário” (“Geisel” devido ao vidro fumê que lembrava os óculos escuros de nosso ex-presidente e “Funerário” devido ao mármore que revestia aqueles edifícios). Imediatamente quis recusar o serviço, mas lembrou-se que precisava pagar a prestação do apartamento onde morava, por sinal da mesma construtora que havia assassinado o pobre tamarindeiro... Parou então em um boteco, pediu uma cerveja e começou a pensar na vida... percebeu que no começo achava ótimo o que fazia, mas agora percebera que era apenas um joguete na mão das construtoras, que também graças as suas maquetes, apartamentos eram vendidos, mas para que isso ocorresse, casas eram demolidas, bairros eram degradados e jaqueiras, cajueiros, jabuticabeiras, limoeiros, mangueiras, seringueiras, ipês roxos, ipês amarelos, ipês brancos, enfim muitas e muitas árvores eram arrancadas!!!
Na véspera do lançamento o nosso protagonista entregou a maquete, por sinal feita com o maior capricho... porém no dia seguinte em meio ao coquetel reunindo corretores de um lado e novos-ricos do outro lado, Joelmo apareceu embriagado (de batida de tamarindo com gin) e fantasiado de romano, mais precisamente de Nero... antes que os seguranças pusessem impedi-lo, ateou fogo à maquete enquanto tocava harpa e cantava canções obscenas...
Nunca mais encomendaram suas maquetes, porém a performance virou notícia mundial e hoje Joelmo Vespasiano faz performances semelhantes na principais mostras de artes plásticas do planeta. Ainda mora em São Paulo, mas passou para frente o apartamento financiado e com o dinheiro que ganhou na Documenta de Kassel comprou uma casa antiga no bairro do Ipiranga onde seus filhos e sobrinhos brincam a sombra de bananeiras, laranjeiras e pés-de amora.
Desde pequeno Joelmo Vespasiano era apaixonado pelo plastomodelismo, ou seja adorava montar aqueles aviões, navios, tanques de guerra, carros, todos de plástico... depois pintava-os cuidadosamente, colava os decalques e os exibianas prateleiras do alpendre no quintal da casa de seus pais em Moema... Quando foi estudar arquitetura sua habilidade com aviõezinhos de montar fez com que fizesse as mais bonitas maquetes da faculdade... passou a ser requisitado para fazer maquetes para os escritórios dos professores e após a formatura abriu uma micro-empresa especializada no assunto... em pouco tempo a micro-empresa prosperou e ele passou a atender as grandes construtoras.
Em uma tarde morna de terça-feira o nosso protagonista recebeu a notícia que asua tia-avó Lalitas havia falecido... imediatamente ele se lembrou dos almoços na infância na casa da tia querida no bairro da Vila Mariana, onde costumava brincar com seus primos e primas no jardim junto ao tamarindeiro naquelas tardes quentes e perfumadas em que o sol entorpecia os sentidos com a suas radiações voluptosas... No velório começaram os boatos: a casa seria vendida...
Passados alguns meses ele recebeu a encomenda de uma construtora para executar uma maquete de um grande lançamento que iria ocorrer justamente na rua em que a sua tia Lalitas morava... ficou desconfiado e foi até o local averiguar: o prédio seria construído justamente onde era a casa de sua tia-avó e o pior: o tamarindeiro fora cortado!!!
Joelmo então começou a caminhar a esmo em meio a aquele bairro onde as residências estavam sendo esmagadas por aquele monte de prédios horrorosos: prédios chanfrados, prédios mediterrâneos, prédios revestidos com pastilhas, e o pior: prédios naquele estilo que Darcy Ribeiro denominou “Geisel-Funerário” (“Geisel” devido ao vidro fumê que lembrava os óculos escuros de nosso ex-presidente e “Funerário” devido ao mármore que revestia aqueles edifícios). Imediatamente quis recusar o serviço, mas lembrou-se que precisava pagar a prestação do apartamento onde morava, por sinal da mesma construtora que havia assassinado o pobre tamarindeiro... Parou então em um boteco, pediu uma cerveja e começou a pensar na vida... percebeu que no começo achava ótimo o que fazia, mas agora percebera que era apenas um joguete na mão das construtoras, que também graças as suas maquetes, apartamentos eram vendidos, mas para que isso ocorresse, casas eram demolidas, bairros eram degradados e jaqueiras, cajueiros, jabuticabeiras, limoeiros, mangueiras, seringueiras, ipês roxos, ipês amarelos, ipês brancos, enfim muitas e muitas árvores eram arrancadas!!!
Na véspera do lançamento o nosso protagonista entregou a maquete, por sinal feita com o maior capricho... porém no dia seguinte em meio ao coquetel reunindo corretores de um lado e novos-ricos do outro lado, Joelmo apareceu embriagado (de batida de tamarindo com gin) e fantasiado de romano, mais precisamente de Nero... antes que os seguranças pusessem impedi-lo, ateou fogo à maquete enquanto tocava harpa e cantava canções obscenas...
Nunca mais encomendaram suas maquetes, porém a performance virou notícia mundial e hoje Joelmo Vespasiano faz performances semelhantes na principais mostras de artes plásticas do planeta. Ainda mora em São Paulo, mas passou para frente o apartamento financiado e com o dinheiro que ganhou na Documenta de Kassel comprou uma casa antiga no bairro do Ipiranga onde seus filhos e sobrinhos brincam a sombra de bananeiras, laranjeiras e pés-de amora.
José Geraldo De Barros Martins é de São Paulo. Músico, pintor e escritor, desde 2001 publica seus desenhos e escritos no blog http://zegeraldo.free.fr/.
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