by Tim Burton |
Almas indomadas
Os fantasmas estão cada vez mais ousados. Vaivém eles aparecem em notícias pelo mundo afora.
São Paulo também tem suas almas penadas. Em geral, surgem em prédios antigos, pois ninguém nunca soube que procurem abrigo em construções modernas, com cheiro de novas e sem história de vida e de morte.
A Câmara Municipal, no viaduto Jacareí, já foi palco de freqüentes aparições. Em seus corredores, funcionários da Casa já cruzaram com fantasmas. Numa manhã de maio de 1991, a chefe da faxina chegou à biblioteca, que estava trancada. Pela divisória de vidro avistou uma senhora sentada e lendo, tranqüilamente, um jornal. Logo, chamou um segurança. Ao abrirem a porta, a leitora desapareceu como num passe de mágica.
Já em março de 1996, um encanador foi chamado para consertar um vazamento no oitavo andar. Era quase dez horas da noite. De repente, surgiu uma mulher vestida de noiva, que caminhou em sua direção. O funcionário não esperou o gélido beijo nupcial.
Há outros retiros para as assombrações paulistanas. O Teatro Municipal, inaugurado há um século, em 1911, é um deles. Em suas galerias subterrâneas acumulavam-se velhos cenários – e fantasmas de óperas passadas. Outro é a antiga sede da Light, construída em 1929, na Xavier de Toledo. Um falecido chefe da empresa canadense já foi visto altas horas da noite rondando nos andares do prédio. Depois que virou Shopping Light, pode ser que os fantasmas tenham procurado outro abrigo.
Nunca vi almas de outro mundo. Sei que na São Paulo dos anos 20 eles marcavam presença até mesmo em logradouros públicos. Certa vez, já tarde da noite, o condutor e o cobrador de um bonde da Light faziam sozinhos a última viagem de volta do bairro da Casa Verde. De súbito, à luz do farol, avistaram um vulto atravessado na linha. Rapidamente, pararam para prestar socorro. Ao descerem, a surpresa: não havia ninguém ali.
Apavorados, pediram a proteção de são Benedito e, à toda, apressaram o bonde rumo ao centro. Depois desse dia, em toda última viagem, eles não cobravam mais a passagem de negros – uma promessa feita ao santo de devoção – exceto, é claro, quando o fiscal da Light estivesse por perto.
Os fantasmas estão cada vez mais ousados. Vaivém eles aparecem em notícias pelo mundo afora.
São Paulo também tem suas almas penadas. Em geral, surgem em prédios antigos, pois ninguém nunca soube que procurem abrigo em construções modernas, com cheiro de novas e sem história de vida e de morte.
A Câmara Municipal, no viaduto Jacareí, já foi palco de freqüentes aparições. Em seus corredores, funcionários da Casa já cruzaram com fantasmas. Numa manhã de maio de 1991, a chefe da faxina chegou à biblioteca, que estava trancada. Pela divisória de vidro avistou uma senhora sentada e lendo, tranqüilamente, um jornal. Logo, chamou um segurança. Ao abrirem a porta, a leitora desapareceu como num passe de mágica.
Já em março de 1996, um encanador foi chamado para consertar um vazamento no oitavo andar. Era quase dez horas da noite. De repente, surgiu uma mulher vestida de noiva, que caminhou em sua direção. O funcionário não esperou o gélido beijo nupcial.
Há outros retiros para as assombrações paulistanas. O Teatro Municipal, inaugurado há um século, em 1911, é um deles. Em suas galerias subterrâneas acumulavam-se velhos cenários – e fantasmas de óperas passadas. Outro é a antiga sede da Light, construída em 1929, na Xavier de Toledo. Um falecido chefe da empresa canadense já foi visto altas horas da noite rondando nos andares do prédio. Depois que virou Shopping Light, pode ser que os fantasmas tenham procurado outro abrigo.
Nunca vi almas de outro mundo. Sei que na São Paulo dos anos 20 eles marcavam presença até mesmo em logradouros públicos. Certa vez, já tarde da noite, o condutor e o cobrador de um bonde da Light faziam sozinhos a última viagem de volta do bairro da Casa Verde. De súbito, à luz do farol, avistaram um vulto atravessado na linha. Rapidamente, pararam para prestar socorro. Ao descerem, a surpresa: não havia ninguém ali.
Apavorados, pediram a proteção de são Benedito e, à toda, apressaram o bonde rumo ao centro. Depois desse dia, em toda última viagem, eles não cobravam mais a passagem de negros – uma promessa feita ao santo de devoção – exceto, é claro, quando o fiscal da Light estivesse por perto.
Roniwalter Jatobá, jornalista, e escritor, publicou, entre outros, os livros Sabor de química (1977), Crônicas da vida operária (1978), Filhos do medo (1980), Viagem à montanha azul (1982), Trabalhadores do Brasil: histórias do povo brasileiro (1998, organizador), O pavão misterioso e outras memórias (1999), Paragens (2004), Rios sedentos (2006, voltado para o público infanto-juvenil), Viagem ao outro lado do mundo (2009) e Contos Antológicos (2009). Para a coleção “Jovens sem fronteiras”, publicou O jovem Che Guevara (2004), O jovem JK (2005), O jovem Fidel Castro (2008) e O jovem Luiz Gonzaga (2009).
1 comment:
Excelente, Roniwalter!
Eu, graças ao bom Deus, nunca vi fantasmas! Mas que existem, existem!
abraços
Cesar
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