Definição

... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano VI Número 63 - Março 2014

Conto - José Miranda Filho

Ville et Lac du Como, peinture de Jean-Baptiste Camille Corot, 1834
Encontro de Amigos - Parte 5

A parte antiga da cidade está situada no topo de uma montanha cercada pelos três lados por uma curva do Rio Tejo. No verão o clima é muito quente, chegando a registrar até 44 graus. Para turistas brasileiros acostumados com o verão, dá para suportar até determinado momento, mesmo assim precisamos tomar bastante água para evitar a desidratação. Toledo é uma comunidade autônoma de Castilla de La Mancha. Foi capital da Espanha até 1560. Tem uma população de quase um milhão de vivente que se aglomeram naqueles espaços medievais. É uma cidade visigótica desde o século VIII, no reinado do Rei Leovigildo. A cidade de Toledo é famosa pela manufatura de armas brancas, herança dos visigodos, cuja produção destinava-se a guerra. Contudo, também era conhecida como a cidade da tolerância por ter abrigado no passado três traços culturais heterogêneos: muçulmanos, judeus e católicos. O domínio muçulmano começou quando as tropas de Tariq cruzaram o estreito de Gilbratar, derrotando o exercito visigodo de D. Rodrigo, no século VII. O domínio cristão em Toledo prevaleceu do século X a XII, devido um acordo de rendição da cidade pactuado com os muçulmanos por Afonso VI. Segundo esse acordo os muçulmanos poderiam permanecer na cidade com suas famílias e seus bens, entretanto, deveriam obrigar-se continuar pagando os tributos ao Rei. O predomínio dos judeus sobre Toledo começou no final do século XII e início do século XIII, culminando com a chamada tolerância cultural da cidade. Toledo possui muitos monumentos históricos, entre eles, destacamos Alcazar e Zocodover, a igreja primaz da Espanha e o Mercado Central. Quando em 1492 os judeus e muçulmanos foram expulsos da cidade, deixaram obras arquitetônicas fenomenais e de grandes vultos, como a sinagoga de Santa Maria de La Blanca e a de El Transito, também a mesquita de Cristo de La Luz. O Pintor Cretense, El Grecco, que lá viveu algum tempo, deixou sua marca através de obras fabulosas. Seu quadro “O Enterro do Conde de Azaz” está exposto na Igreja de San Tomé.

No caminho para Toledo passamos por varias vilas e cidades, entre elas, Avila e Cidade Real, que nos impressionaram bastante pela riqueza arquitetônica e cultural.

Voltamos a Madri ao entardecer. O sol quente e forte declinava-se no horizonte, precipitando-se para aconchegar uma noite calma e fresca, que se aproximava lentamente. A lua majestosa e reluzente lançava no céu azul- claro de Madri seus primeiros raios de luz. A noite fresca e iluminada forçou-nos a caminhar pelas ruas do centro da cidade antes de retornarmos ao lar. Numa confeitaria do bairro paramos para tomar uma cerveja, o que fizemos com muito bom gosto. Percebi pelo gesto de contentamento que Edward e Marcos fizeram ao degustar o primeiro gole.

A Noite em Madri é simplesmente fabulosa, apesar do calor incessante que fazia. Permanecemos em Madri até o dia 14. À tardezinha do dia seguinte num voo da Vueling, rumamos para a Itália.

É muito barato viajar pelos países da Europa de avião, de carro ou de trem. Lá é tudo próximo de tudo. Os Estados se interligam. Sai-se de um país e instantes depois, chega-se a outro sem maiores problemas burocráticos ou consulares, basta que se tenha o passaporte da Comunidade Europeia. Depois da unificação da comunidade europeia as coisas ficaram mais fáceis para o povo. Viaja-se de um país a outro com pouco dinheiro. O custo de vida é barato em determinadas cidades, como Lisboa e Porto e razoável em outras cidades, enquanto na cidade de Milão, não fosse pela beleza local, acredito que ninguém teria coragem de visitá-la. É razoavelmente cara! Os próprios milaneses - como nos dissera um motorista de táxi - não conseguem viver bem na cidade. Para o turista, que antes tem de passar pelo constrangimento da indelicadeza de alguns milaneses, fica ainda mais difícil. Nunca passei por tanta humilhação. Ave César! A educação, já dizia o provérbio popular, cabe em qualquer lugar, menos em Milão. Com raríssimas exceções, é claro! Mas, isso não tira o brilho da beleza da cidade, suas praças, seus monumentos, museus, igrejas etc. Chegamos a Milão, no aeroporto de Malpensa exatamente às 20,30 horas do dia 14 de outubro, para cumprirmos a terceira etapa programada de nossa viagem.

De posse de um mapa da cidade, daqueles que se encontra nas revistarias, percorremos algumas ruas do centro até chegarmos ao hotel, onde já havíamos reservado a hospedagem. Milão, a mim me pareceu, ser igual a Lisboa quanto à dificuldade de visualização e localização de ruas. Os mapas indicativos dos logradouros de Milão são muito complicados para se entender, tanto quanto as ruas de Lisboa, cuja identificação fica no meio do quarteirão, obrigando o turista que não as conhece andar até a metade da rua para poder identificar o nome, tarefa às vezes até impossível devido às letras grifadas nas placas serem pequenas, brancas e apagadas. No mais tudo é maravilhoso, tanto em Milão, quanto em Lisboa.

Tomamos o café da manhã ainda no hotel e seguimos para o centro da cidade em direção a Plaza D’Uomo. Lá, eu e minha mulher sentamos numa choperia e tomamos uma caneca de cerveja e um café pelos quais pagamos nada menos do que dez euros. Um absurdo! É na praça D´Uomo que se localizam os edifícios mais antigos e históricos de Milão. O Museu Del Duomo e a Catedral de Milão, tida como a terceira igreja maior do mundo, após a catedral de Saint Patrick e a Catedral de San Galeazzo Visconti. O teatro Alla Scala, majestoso monumento, palco de grandes apresentações operetas e peças teatrais fantásticas, também se localizam na milenária praça. Lá também se encontram a estátua de Leonardo Da Vinci, o Museu Poldi Pezzoli, Museu Di Brera, Galeria Vitório Emanuele II e o Castelo Sforzesco, cuja construção data de 1.400 e foi inspirado num trabalho de Michelangelo; Chiesa Di Santa Maria Delle Grazie e tantos outros monumentais edifícios que aguçam a curiosidade de qualquer cidadão. Na Plaza Mayor está localizada a estátua de Felipe III. Porta do Sol, a mais importante porta de entrada da cidade do século XV, é exuberante. No museu do Prado encontram-se as obras de Goya e do pintor Cretenso, El Grecco, o mesmo que deixou seus rastros em Toledo, Espanha.

Já noite, um atencioso e educado funcionário do hotel onde estávamos hospedados - fato raro nos milaneses - indicou-nos um restaurante brasileiro situado a algumas quadras do hotel. Apesar da dificuldade de se localizar a rua, conseguimos encontrá-lo. Restaurante Brasiliano – Viele Zara, 116. Esse é o endereço. Valeu a pena! Comida de boa qualidade, preço acessível, atendimento VIP – “Very Important Person" e impecável recepção. Come-se bem por um preço justo. Gastamos setenta e quatro euros por um bom bobó de camarão e uma gostosíssima picanha fatiada, acompanhada de arroz e feijão preto. Muito bom e barato para quatro pessoas. Os proprietários do restaurante são um brasileiro e uma marroquina. Ele é o cozinheiro, e ela gerencia a parte administrativa. Educados e gentis. As recepcionistas-atendentes são brasileiras e peruanas. A brasileira é de Fortaleza, Ceará, e está em Milão há 13 anos. Confidenciou-nos que está maluca para voltar ao Brasil. Ao retornarmos ao hotel, passamos pelo bar para finalizar a noite. No quarto, antes de dormir, ainda tive tempo de ver na TV uma reportagem sobre a Bolívia, comentários do “modus-vivendi” de sua gente, economia, estilo de governo, padrão de vida, plantio da coca, produção, comercialização etc. Não gostei do que vi e ouvi. Desliguei a televisão e fui dormir.

Adormeci. Só despertei no dia seguinte às dez horas. Minha mulher continuou dormindo.

Saímos de Milão após o café da manhã, e seguimos pela autoestrada A9, até alcançarmos Como, uma pequena cidade turística e de belezas naturais à beira do lago do mesmo nome. Enquanto subíamos a estrada montanhosa de Como, á procura de um ponto para ver a cidade de cima e conferir no mapa o local onde nos encontrávamos, surgiu ao nosso lado um camponês pilotando uma lambreta, meio de transporte comum naquela região e muito conhecida de nós brasileiros nos anos setenta, que solidariamente nos ofereceu ajuda sem que para isso lhe tivéssemos solicitado. A gentileza e a sugestão do cidadão foram tão úteis que resolvemos aceitar sua ideia pernoitarmos em Bellagio, uma das cidades que se encontram ao entorno do Lago Di Como.

Passamos por Lecco, outra cidade também à margem do Lago Di Como. Paramos em alguns vilarejos para tomar café e água. Vilarejos pitorescos, seculares, de belezas naturais e de grande acervo turístico, histórico e cultural. Jamais havíamos visto tanta beleza! Agradeci ao Grande Arquiteto do Universo, pelas informações recebidas daquele cidadão. A solicitude daquele homem compensou a má educação de todos os milaneses. Nem todos, vai! A grande maioria deles vive do turismo e por isso... Bem, por isso mesmo precisam ser educados. Entretanto, a opinião do grupo é homogênea, e em unissonância, achamos os milaneses um tanto quanto mal-educados, sem generalizar, é claro!

Passamos a noite em Bellagio, num hotel de pequenas dimensões, num mesmo quarto Da janela do quarto via-se o movimento dos barcos que partiam repletos de gente e coisas para as outras cidades ao entorno do lago. À noite fomos a uma taberna beber vinho, já que a cidade não oferecia outras opções de lazer. Parecia ser uma cidade para aposentados ou gente da terceira idade em busca de um lugar calmo para descansar e refazer as energias. Os donos da taberna eram dois italianos, simpáticos e alegres: Mario e Izabella, marido e mulher. Ficamos até às duas horas da manhã fascinados pelo estoque de vinho existentes na taberna: Italianos, espanhóis, chilenos, franceses, argentinos... Degustamos algumas garrafas. Não pagamos caro pelo consumo e ainda fomos agraciados com uma bela garrafa do legítimo Donna Fugatta, Mille uma Notte, vendemmia 2001. Raro no Brasil.

No dia seguinte ao amanhecer, pegamos uma estrada longa, estreita e tortuosa que circunda a cidade através das montanhas e vilas e seguimos em direção a Bergamo.

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