Gustav Adolph Hennig, Lesendes Mädchen, 1828 |
Você acredita em leitor?
Depois de 7 anos escrevendo, concluí: o leitor não existe. Somos nós, os escritores, quem inventamos o leitor.
É como aquele cheiro de bife que a gente sente no hall do apartamento, e que nos deixa de água na boca, e quando abrimos a porta de casa, salivando, ele se evapora. É assim também o leitor: volátil e etéreo.
Como um caçador de unicórnios, fui nos últimos anos um brutal caçador desse mitológico ser. Apanhei alguns desprevenidos, que considerei serem da espécie, e levei-os lá pra casa. Durante dias torturei-os, obrigando-os a ler meus contos, com a ponta de uma faca incandescente ameaçando cauterizar seus olhos. De um deles retirei as unhas, uma a uma, com um alicate de corte. Com outra, amordaçada e acorrentada num canto da despensa, apaguei fósforos na face e apertei os seios num torno até virarem gelatina de sagu, depois arranquei e encolhi sua cabeça usando uma técnica aborígene.
Como os que ficaram vivos poderiam me reconhecer diante de um júri popular, fui obrigado a esquartejar e queimar os corpos, depois de arrancar os dentes e as pontas dos dedos para dificultar a perícia.
Hoje, concluo que tudo isso foi uma grande perda de tempo. Não eram leitores, já que nenhum deles foi capaz de terminar de ler um só conto meu, em voz alta, e responder às perguntas que eu costumo formular. Quais os nomes e motivações dos personagens, suas características psicológicas, que tipo de infância teriam tido etc.
Meu pai tinha razão: não ler faz um mal enorme pra vida das pessoas...
Hoje, sabendo que o leitor não existe, parei de tentar caçá-los, e sou feliz comigo mesmo, sendo o meu único e verdadeiro leitor.
E se você, que acredita que o leitor existe, por acaso quiser conversar comigo, que passe em casa para um café, então nos sentaremos para um papinho, ali no canto da despensa.
Depois de 7 anos escrevendo, concluí: o leitor não existe. Somos nós, os escritores, quem inventamos o leitor.
É como aquele cheiro de bife que a gente sente no hall do apartamento, e que nos deixa de água na boca, e quando abrimos a porta de casa, salivando, ele se evapora. É assim também o leitor: volátil e etéreo.
Como um caçador de unicórnios, fui nos últimos anos um brutal caçador desse mitológico ser. Apanhei alguns desprevenidos, que considerei serem da espécie, e levei-os lá pra casa. Durante dias torturei-os, obrigando-os a ler meus contos, com a ponta de uma faca incandescente ameaçando cauterizar seus olhos. De um deles retirei as unhas, uma a uma, com um alicate de corte. Com outra, amordaçada e acorrentada num canto da despensa, apaguei fósforos na face e apertei os seios num torno até virarem gelatina de sagu, depois arranquei e encolhi sua cabeça usando uma técnica aborígene.
Como os que ficaram vivos poderiam me reconhecer diante de um júri popular, fui obrigado a esquartejar e queimar os corpos, depois de arrancar os dentes e as pontas dos dedos para dificultar a perícia.
Hoje, concluo que tudo isso foi uma grande perda de tempo. Não eram leitores, já que nenhum deles foi capaz de terminar de ler um só conto meu, em voz alta, e responder às perguntas que eu costumo formular. Quais os nomes e motivações dos personagens, suas características psicológicas, que tipo de infância teriam tido etc.
Meu pai tinha razão: não ler faz um mal enorme pra vida das pessoas...
Hoje, sabendo que o leitor não existe, parei de tentar caçá-los, e sou feliz comigo mesmo, sendo o meu único e verdadeiro leitor.
E se você, que acredita que o leitor existe, por acaso quiser conversar comigo, que passe em casa para um café, então nos sentaremos para um papinho, ali no canto da despensa.
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