Giuseppe Pongolini - Contemporary Crucifixion Contemporary wall sculpture, 48X27 inches |
ferro & carcoma
livro inédito de Souzalopes
livro inédito de Souzalopes
ferro
assopra meu avô assopra no ouvido
do filho do teu filho do que não ouviu
que não ouviu o grito não ouviu o galo
nem galope e madrugada é ele quem
é ele quem é ele por que vive e não
destampa do ouvido o vento e sua vela
sendo sebo e chama é algo que se apaga
ou linho tenso sobre lenho vide dobra
danzol torcido certo meu avô assopra
e o peixe disse eu tortura sofre
não é com fé disse meu avô mas é com erro
que se faz o ferro e meu pai mostrou
um pau pegando fogo e no fogo a pedra
que parte foi do chão até parece água
que apaga a brasa e disse meu avô
que ferro que avua viu meu pai falou
meu pai falou este metal orafundido
é tão pesado eu oradisse afunda nágua
aí força não há disse meu avô é no forjar
que se forma o ferro e falou meu pai
que frágua que bigorna e também falou
do marte e do martelo e depois tem dia
de lenha ou de lei e tem que meu avô
disse do vento aieste oi o fole faz
um fogo vivo oieste ai cambono foi
que falo eu se é forjado é carbono sem
basta bater o ferro disse meu avô
que se faz o medo isto é moeda
de perdido peido ô merda submersa
ó eleison kirie ó ave sob sabre
o que restou da asa nem a liberdade
sobrou meu pai falou esta merreca
na mesa da miséria vide que egesta
uma bosta suja e eu falei é coisa
é coisa da recusa é cu no parafuso
é de ferro disse meu avô também o cravo
e também o prego e também é pouco
todo perigo e meu pai falou um cego
faz olho no arame e outro passa rente
da farpa fria e foi vazado e é vazio
o prato do pobre então eu disse a fome
é um artigo triste é ferrugem eu disse
e foi-se toda posse aí disse meu avô
repousa nesta quebra um finado osso
do morto que morreu fulano sua ferida
será do ferro ou foi da vida aí meu pai
falou foi queda este defunto aquece
o aço e reza o morte e todo ferro
terá risco e depois corte e meu avô
disse da carne é fio que apodrece
ô fibra que já fede ô coita que se tece
e eu o que falei aqui a alma cede
aí dizia meu avô gemer gemer na nossa
língua contra o ferro dói e ai daquela
cadela ai do seu dente mas meu pai
na época diz oi como se acoita ai
um pardo escorraçado esta pereba
de ferro velho oi só é mais tarde
um gosto ai da lama e do lamento ai
da língua eu falei foi do dejeto oi
do dia ei se degemer degemerai
depois disse meu avô agora o ferro
também falece frio assim a faca
afoga o canto um rio na garganta
do galo degolado morto aí meu pai
falou foi ferro e brasa é o que marca
um boi bitelo novo e falou foi um
ferrão no boi doente e eu disse é fero
revérbero sem doce @ por isso nasci hoje
assopra meu avô assopra no ouvido
do filho do teu filho do que não ouviu
que não ouviu o grito não ouviu o galo
nem galope e madrugada é ele quem
é ele quem é ele por que vive e não
destampa do ouvido o vento e sua vela
sendo sebo e chama é algo que se apaga
ou linho tenso sobre lenho vide dobra
danzol torcido certo meu avô assopra
e o peixe disse eu tortura sofre
não é com fé disse meu avô mas é com erro
que se faz o ferro e meu pai mostrou
um pau pegando fogo e no fogo a pedra
que parte foi do chão até parece água
que apaga a brasa e disse meu avô
que ferro que avua viu meu pai falou
meu pai falou este metal orafundido
é tão pesado eu oradisse afunda nágua
aí força não há disse meu avô é no forjar
que se forma o ferro e falou meu pai
que frágua que bigorna e também falou
do marte e do martelo e depois tem dia
de lenha ou de lei e tem que meu avô
disse do vento aieste oi o fole faz
um fogo vivo oieste ai cambono foi
que falo eu se é forjado é carbono sem
basta bater o ferro disse meu avô
que se faz o medo isto é moeda
de perdido peido ô merda submersa
ó eleison kirie ó ave sob sabre
o que restou da asa nem a liberdade
sobrou meu pai falou esta merreca
na mesa da miséria vide que egesta
uma bosta suja e eu falei é coisa
é coisa da recusa é cu no parafuso
é de ferro disse meu avô também o cravo
e também o prego e também é pouco
todo perigo e meu pai falou um cego
faz olho no arame e outro passa rente
da farpa fria e foi vazado e é vazio
o prato do pobre então eu disse a fome
é um artigo triste é ferrugem eu disse
e foi-se toda posse aí disse meu avô
repousa nesta quebra um finado osso
do morto que morreu fulano sua ferida
será do ferro ou foi da vida aí meu pai
falou foi queda este defunto aquece
o aço e reza o morte e todo ferro
terá risco e depois corte e meu avô
disse da carne é fio que apodrece
ô fibra que já fede ô coita que se tece
e eu o que falei aqui a alma cede
aí dizia meu avô gemer gemer na nossa
língua contra o ferro dói e ai daquela
cadela ai do seu dente mas meu pai
na época diz oi como se acoita ai
um pardo escorraçado esta pereba
de ferro velho oi só é mais tarde
um gosto ai da lama e do lamento ai
da língua eu falei foi do dejeto oi
do dia ei se degemer degemerai
depois disse meu avô agora o ferro
também falece frio assim a faca
afoga o canto um rio na garganta
do galo degolado morto aí meu pai
falou foi ferro e brasa é o que marca
um boi bitelo novo e falou foi um
ferrão no boi doente e eu disse é fero
revérbero sem doce @ por isso nasci hoje
Carcoma
carcoma tudo carcoma
a mãe do fome dizia
toda carne será podre
no desterro e terá dente
mordendo tarde carcoma
tudo carcoma carcoma
carcoma tudo carcoma
o peito da mãe carcoma
cheiro murcho de azedo
na parede que se abala
teve sangue nesta rede
teve ouro e carcoma
seu dono tudo carcoma
a mão que o ama carcoma
tudo carcoma que o corvo
nem passa nem pousa na sorte
de um defunto urubu
que toda carniça carcoma
aquela carne do nome
carcoma tudo carcoma
lepra e carcoma a usada
usura ulcera tal pedra
podre se leva carcoma
seu nome seu carcinoma
seu escrito de escroto
carcoma tudo carcoma
um sol de sebo na prensa
do medo que merda carcoma
a parte do verme a pátria
de todo defunto é seu morte
seu leste vindo sem vento
pedaço de peste no prato
tão triste tão sujo caco
carcoma tudo carcoma
carcoma tudo até
seu dente senhora cair
tudo carcoma seu dente
já podre com precioso
osso no riso carcoma
tudo senhora que é
seu riso carcoma tudo
carcoma o fel de quem ri
carcoma tudo carcoma
o pão do pobre pisado
pesado nome do não
rasgado na rama sêca
do seu medo semeado
seu arremedo de nada
seu ódio seu óbito frio
sua arma tudo carcoma
carcoma a luz que o viu
carcoma tudo carcoma
o mundo que o pariu
no azinhavre da vida
e outros vizinhos do morte
carcoma aquilo que sobra
também carcoma esta lua
usada coisa de uivo
de poesia e de cão
a mãe do fome dizia
tudo carcoma carcoma
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