Paweł Kuczyński |
Minha amiga, eu procuro
jamais subir no muro
não para evitar o perigo,
mas porque não consigo
ler uma mensagem como a tua
e não tentar algo que retribua
um mimo como esses versos do gigante
mesmo correndo o risco de ser pedante
E que pareça mera rabugice
Ou repetição do que já se disse
então segue aí, como resposta ao titã
Esta minha paráfrase quase anã.
...
Ser jovem não é virtude
Envelhecer é uma vicissitude
em que devo evitar os quindins
E tentar aprender a andar de patins
Apesar dela, posso comer goiaba
embora pra colhê-la use a escada
Porque não se perde o bom gosto
No entanto, não devo ficar exposto
ao risco de ser visto de pijama
justo pelos olhos de uma bela dama
dessas de vestido transparente
Que me refaz adolescente
Nos sonhos em que divago
que queria ser um mago
para poder me disfarçar
de surfista que sai do mar
Minha amiga, por favor, releve
Meu pouco cabelo coberto de neve
e deixa, pelo menos, que eu acredite
que não se vem ao mundo a convite
Nem se pode impor condições
Como “quero rimar tal Camões!”
Meu modelo é o herói
Que não receia o apupo
E a cada tombo se reconstrói
Alego culpa e, por isso, clemência
Por ter ilusão, mas não demência.
Ainda me ouvirás com algum fôlego
Mesmo caminhando meio trôpego
E estes joelhos agora meio rígidos
Hão de se manter hígidos
Para cumprir até o fim sua função
De dobrar-me diante da criação
Não, não me tornarei um ermitão
(É que ora sei que o que conta é a emoção.)
Por enquanto, jovem senhora
Mandemos a nostalgia embora
e à base de afeto e brincadeira
Encaremos cada nova segunda-feira.
Este é o valor da amizade
A receita para a longevidade.
Se no frio dá vontade de ficar triste
A gente lembra dos amigos e resiste
mas não dispensa o cachecol
até poder trocar as cobertas pelo lençol
E outra vez ver florir o girassol
Às vezes pergunto por que me meto
A bagunçar o coreto
Quando devia ficar quieto
Deixar as respostas para o sábio místico
E ficar a comer pinhão em silêncio profundo
Será porque “quid pro quo” é o meu dístico?
[paráfrase ao poema "O Entardecer de um Fauno", de Luis Fernando Veríssimo]
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