Ilustrações do autor
Procurando Um Livro
Josias Germano abriu aquela gaveta esperando encontrar o seu velho exemplar de “Com Vocês Antônio Maria” uma coletânea de crônicas do famoso compositor e jornalista pernambucano editada em 1994 pela Editora Paz e Terra... o motivo da busca era encontrar uma citação sobre a poesia de uma mulher dormindo, a beleza daquele corpo descansando em uma posição aconchegante...
Em vez de encontrar o tão esperado livro, ele achou seu velho álbum de fotografias das viagens que executara na década de noventa: sempre só, percorria de trem e de mochila as mais diversas cidades européias... se lembrou quando para economizar dormira em um depósito de toalhas no Hostal Vetusta em Madrid, se lembrou que quando chegou nesta cidade (a primeira que visitou no velho continente) passou três dias a base de gin, cerveja e porções de polvo, o que lhe rendeu uma tremenda infecção intestinal, lembrou-se da vernissage da exposição de Hélio Oiticica na Fundação Tapiás, em Barcelona, onde viu o cineasta Júlio Bressane deslocado, porém não teve coragem de ir lá conversar com ele (fato que se arrepende até hoje), se lembrou também da viagem de navio entre Le Havre (França) e Rosslare (Irlanda) quando para não ter que pagar cem doletas pela cabine individual, dormiu no chão da embarcação após encharcar-se de cerveja guinness e uísque irlandês, se lembrou de quando quase apanhou de quatro hooligans em Amsterdã (*), lembrou-se da emoção ao ver as obras de Agustin Lesage no Museu de Arte Brut em Lausanne no dia de seu aniversário, da seção de gravuras na British Library, em Londres, quando segurou em mãos obras de William Blake e Louis Wain, se lembrou das enormes colagens de Matisse no museu George Pompidou... vendo aquele álbum se lembrou também que só gostava de ser fotografado em movimento, por isso pedia para as pessoas tirassem fotos dele sempre andando... ele enquadrava a fotografia, passava a máquina para as mãos das pessoas que se dispunham a ajudá-lo e pedia: “quando eu estiver naquele ponto dispare a foto!”... achava que isto daria uma dinâmica das suas fotos de viagem... ele sempre caminhando....
Depois pensou que aquela época de errâncias amorosas foi marcada pelas viagens solitárias, das quais os ícones eram as fotos caminhando solitário... eram viagens na base de “manhãs e tardes em museus e noites e mais noites em bares”... pensou que muito mais tarde descobriu aquela lição óbvia que afirma que as pessoas sempre buscam fora algo que na verdade está junto a elas... então pensou nas viagens atuais com sua cara metade Marília Olávia: hotéis cheirosos ao invés dos muquifos azedos em que se hospedara, carros alugados ao invés de trens sacolejantes, vinhos e pratos elaborados ao invés de destilados, cerveja e de vez em quando alguma comida, e muito mais importante que isso: alguém com que possamos conversar, reparar juntos nos mais diversos tipos humanos, dividir impressões sobre uma paisagem, comentar o sabor de um prato, tentar adivinhar seus ingredientes, trocar impressões a respeito de alguma obra de arte, ...
Josias Germano largou o álbum e caminhou até o seu quarto... então observou sua esposa enrodilhada em um cobertor respirando suavemente...
Então finalmente ele se lembrou da frase de Antônio Maria:
“Nenhuma emoção é mais forte que a de entrar no quarto da mulher que dorme. Sentir-lhe o cheiro e o calor, no ar do quarto.”
(*) Josias Germano tomava uma cerveja em um bar em Amsterdã quando quatro hooligans sentaram ao seu redor puxando conversa de forma nada amistosa.... ele para cortar o assunto disse:
- Tchau bando de otários!!!
Josias Germano abriu aquela gaveta esperando encontrar o seu velho exemplar de “Com Vocês Antônio Maria” uma coletânea de crônicas do famoso compositor e jornalista pernambucano editada em 1994 pela Editora Paz e Terra... o motivo da busca era encontrar uma citação sobre a poesia de uma mulher dormindo, a beleza daquele corpo descansando em uma posição aconchegante...
Em vez de encontrar o tão esperado livro, ele achou seu velho álbum de fotografias das viagens que executara na década de noventa: sempre só, percorria de trem e de mochila as mais diversas cidades européias... se lembrou quando para economizar dormira em um depósito de toalhas no Hostal Vetusta em Madrid, se lembrou que quando chegou nesta cidade (a primeira que visitou no velho continente) passou três dias a base de gin, cerveja e porções de polvo, o que lhe rendeu uma tremenda infecção intestinal, lembrou-se da vernissage da exposição de Hélio Oiticica na Fundação Tapiás, em Barcelona, onde viu o cineasta Júlio Bressane deslocado, porém não teve coragem de ir lá conversar com ele (fato que se arrepende até hoje), se lembrou também da viagem de navio entre Le Havre (França) e Rosslare (Irlanda) quando para não ter que pagar cem doletas pela cabine individual, dormiu no chão da embarcação após encharcar-se de cerveja guinness e uísque irlandês, se lembrou de quando quase apanhou de quatro hooligans em Amsterdã (*), lembrou-se da emoção ao ver as obras de Agustin Lesage no Museu de Arte Brut em Lausanne no dia de seu aniversário, da seção de gravuras na British Library, em Londres, quando segurou em mãos obras de William Blake e Louis Wain, se lembrou das enormes colagens de Matisse no museu George Pompidou... vendo aquele álbum se lembrou também que só gostava de ser fotografado em movimento, por isso pedia para as pessoas tirassem fotos dele sempre andando... ele enquadrava a fotografia, passava a máquina para as mãos das pessoas que se dispunham a ajudá-lo e pedia: “quando eu estiver naquele ponto dispare a foto!”... achava que isto daria uma dinâmica das suas fotos de viagem... ele sempre caminhando....
Depois pensou que aquela época de errâncias amorosas foi marcada pelas viagens solitárias, das quais os ícones eram as fotos caminhando solitário... eram viagens na base de “manhãs e tardes em museus e noites e mais noites em bares”... pensou que muito mais tarde descobriu aquela lição óbvia que afirma que as pessoas sempre buscam fora algo que na verdade está junto a elas... então pensou nas viagens atuais com sua cara metade Marília Olávia: hotéis cheirosos ao invés dos muquifos azedos em que se hospedara, carros alugados ao invés de trens sacolejantes, vinhos e pratos elaborados ao invés de destilados, cerveja e de vez em quando alguma comida, e muito mais importante que isso: alguém com que possamos conversar, reparar juntos nos mais diversos tipos humanos, dividir impressões sobre uma paisagem, comentar o sabor de um prato, tentar adivinhar seus ingredientes, trocar impressões a respeito de alguma obra de arte, ...
Josias Germano largou o álbum e caminhou até o seu quarto... então observou sua esposa enrodilhada em um cobertor respirando suavemente...
Então finalmente ele se lembrou da frase de Antônio Maria:
“Nenhuma emoção é mais forte que a de entrar no quarto da mulher que dorme. Sentir-lhe o cheiro e o calor, no ar do quarto.”
(*) Josias Germano tomava uma cerveja em um bar em Amsterdã quando quatro hooligans sentaram ao seu redor puxando conversa de forma nada amistosa.... ele para cortar o assunto disse:
- I don't Speak english.Os quatro hooligans, que se diziam belgas, ficaram em silêncio, depois bateram palmas pausadamente... o nosso protagonista achou que já era a hora de ir embora, mas antes precisava terminar sua cerveja... também pegava mal sair correndo, então segurou o copo com uma mão e a garrafa com a outra e não largou até esvaziar a garrafa... sua intenção era estar com estes objetos a mão para atirá-los na cara do primeiro hooligan que viesse para cima dele... ele sabia que poderia ser espancado e que se isso ocorresse era melhor que o rosto do primeiro agressor ficasse sériamente desfigurado... os quatro mastodontes perceberam sua estratégia e gritaram para que ele soltasse o copo e a garrafa... Josias Germano olhou no fundo dos olhos do líder e reparou nos seus dentes quebrados e imundos enquanto este vociferava com a saliva escorrendo pelos cantos da boca... porém continuou segurando o copo e a garrafa até terminá-la com toda a calma do mundo... depois levantou-se e disse em bom português:
- Where do you come from?
- I come from to Brazil.
- Show me your passport - responderam eles.
- I don't need show my passport because my country have four Worlds Cups (este diálogo ocorreu logo após a Copa dos Estados Unidos em 1994).
- Tchau bando de otários!!!
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