Paul Vogeler ~ Resurrection, 2011 |
Encontro de Amigos - Parte 27
Meu caro Fred.
Escrevo-te esta carta para dizer-te que estou bem de saúde junto com Josefina que tem sido uma companheira pertinente e te manda um beijo.
Neste momento, do quarto do apartamento ao lado do Parque Fênix, que tu tanto conheces e que juntos, diariamente, percorríamos seu vasto jardim, sinto-me triste e depressivo. Não por faltar-me qualquer bem material, mas o espiritual: o amor, o convívio dos amigos, e do Brasil.
Não sei quando estarei de volta. Esperarei melhor oportunidade para regressar. Sei que uns tantos amigos e companheiros já empreenderam a viagem de volta. A Lei da Anistia ainda é obscura para o meu caso. Uma coisa é ser refém de si próprio, outra é subjugar o poder de quem manda. Sinto-me ainda refém do medo, do passado e do futuro que me espera aí, que não sei como será. Apesar de viver razoavelmente bem aqui em Dublin, ter autorização de locomover-me para qualquer lugar do país, sinto-me um tanto prisioneiro de meus ideais, pois como sabes, não era isso que almejávamos e nem pretendíamos um dia acontecer. Tudo foi por acaso, veio de repente, sem critérios e quaisquer escrúpulos e sem qualquer motivo. Simples vaidade de um grupo de generais radicados na ideologia tacanha do formalismo imperial. Confio na justiça, na ordem e na luta corajosa do povo brasileiro para a restauração da lei e da democracia, que em breve libertará esta Pátria do jugo daqueles que a dominaram injusta e covardemente. O jugo lusitano de antanho já se expurgou definitivamente do seio da nossa Pátria. Não existem mais razões, por mais idealistas que sejam, capazes de impedir o avanço democrático do País.
Na solidão das noites que me parecem longas, ao lado de Josefina que me conforta e supera minhas ansiedades, sinto o burburinho dos transeuntes que passeiam pelos caminhos tortuosos do parque, ignorando totalmente o problema de milhares de pessoas que como eu, absorve-os e recolhe-os no intimo da alma. Eles não têm nada a ver com isso, não é verdade? Entretanto, amigo, a vida foi nos dada para ser vivida, não para lastimá-la. Se assim fosse, Deus não a nos teria dado. Fico feliz que estejas bem ao lado de Joelma e das crianças, se ainda posso assim chamá-las. Também me conforta o fato de saber que meus filhos Edward e Alex, continuam com suas atividades em plena ascensão, e estão bem de saúde e de finanças. Esperançoso de muito em breve dar-te o meu abraço pessoalmente, despeço-me, desejando a ti e aos teus os mais sinceros votos de estima e apreço.
Teu amigo de sempre e para sempre.
Jack.
Esta carta, dentre tantas outras correspondências encontradas na biblioteca do Doutor Jackson, foi endereçada ao amigo Frederico Moreira da Silva, ex-Ministro de Relações Exteriores do Brasil nos idos de 1969, enquanto aguardava melhor oportunidade de regressar ao Brasil, beneficiado pela Lei da Anistia. Alguns meses após ele desembarcava em São Paulo, junto com a esposa e seu fiel escudeiro, Robson Silvério, secretário particular e homem de sua estrita confiança.
Dublin, Irlanda, Outubro de 1984
Meu caro Fred.
Escrevo-te esta carta para dizer-te que estou bem de saúde junto com Josefina que tem sido uma companheira pertinente e te manda um beijo.
Neste momento, do quarto do apartamento ao lado do Parque Fênix, que tu tanto conheces e que juntos, diariamente, percorríamos seu vasto jardim, sinto-me triste e depressivo. Não por faltar-me qualquer bem material, mas o espiritual: o amor, o convívio dos amigos, e do Brasil.
Não sei quando estarei de volta. Esperarei melhor oportunidade para regressar. Sei que uns tantos amigos e companheiros já empreenderam a viagem de volta. A Lei da Anistia ainda é obscura para o meu caso. Uma coisa é ser refém de si próprio, outra é subjugar o poder de quem manda. Sinto-me ainda refém do medo, do passado e do futuro que me espera aí, que não sei como será. Apesar de viver razoavelmente bem aqui em Dublin, ter autorização de locomover-me para qualquer lugar do país, sinto-me um tanto prisioneiro de meus ideais, pois como sabes, não era isso que almejávamos e nem pretendíamos um dia acontecer. Tudo foi por acaso, veio de repente, sem critérios e quaisquer escrúpulos e sem qualquer motivo. Simples vaidade de um grupo de generais radicados na ideologia tacanha do formalismo imperial. Confio na justiça, na ordem e na luta corajosa do povo brasileiro para a restauração da lei e da democracia, que em breve libertará esta Pátria do jugo daqueles que a dominaram injusta e covardemente. O jugo lusitano de antanho já se expurgou definitivamente do seio da nossa Pátria. Não existem mais razões, por mais idealistas que sejam, capazes de impedir o avanço democrático do País.
Na solidão das noites que me parecem longas, ao lado de Josefina que me conforta e supera minhas ansiedades, sinto o burburinho dos transeuntes que passeiam pelos caminhos tortuosos do parque, ignorando totalmente o problema de milhares de pessoas que como eu, absorve-os e recolhe-os no intimo da alma. Eles não têm nada a ver com isso, não é verdade? Entretanto, amigo, a vida foi nos dada para ser vivida, não para lastimá-la. Se assim fosse, Deus não a nos teria dado. Fico feliz que estejas bem ao lado de Joelma e das crianças, se ainda posso assim chamá-las. Também me conforta o fato de saber que meus filhos Edward e Alex, continuam com suas atividades em plena ascensão, e estão bem de saúde e de finanças. Esperançoso de muito em breve dar-te o meu abraço pessoalmente, despeço-me, desejando a ti e aos teus os mais sinceros votos de estima e apreço.
Teu amigo de sempre e para sempre.
Jack.
Esta carta, dentre tantas outras correspondências encontradas na biblioteca do Doutor Jackson, foi endereçada ao amigo Frederico Moreira da Silva, ex-Ministro de Relações Exteriores do Brasil nos idos de 1969, enquanto aguardava melhor oportunidade de regressar ao Brasil, beneficiado pela Lei da Anistia. Alguns meses após ele desembarcava em São Paulo, junto com a esposa e seu fiel escudeiro, Robson Silvério, secretário particular e homem de sua estrita confiança.
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